Aos poucos e bons. Sempre.

Aos poucos e bons. Sempre.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Vida velha. Ano novo.

E dessa nostalgia viva que fica do final do ano, acho tudo tão bom e quente que volto a respirar novos ares. E faço promessas. Boas. Mas sei que algumas ruins ainda ficarão. E se elas não existissem, não sorriria pra lua de ontem que estava tão linda. Da janela da sala que abri para deixá-la entrar. As coisas mais bonitas são ditas em silêncio. Ouvi tanto delas que hoje me calei. Agradeci pela cachorra, pela casa, pelas conquistas, pelo filho, pela família e por mim mesma. Eu disse que esse ano ia ficar pequeno para as minhas asas. E ficou. E, então, Universo, devolvo a Ti mais um desafio. Que seja melhor agora. Que seja melhor hoje. Alguns desafios terão sempre que vir como giletes. Cortam a garganta e te deixam sem fôlego. Mas, folêgo, meu bem, eu tenho. E,  dessa vida que me engole que eu saia da melhor maneira. Vestida de branco, olhando as estrelas e fechando os olhos para aquele vento que sopra na minha nuca. Sabe, hoje quando olho no espelho pela manhã ele me diz: " Vamo que vamo!". Pois é, vou sim. Sempre. E que venha 2013! : )

domingo, 9 de setembro de 2012

Eu sempre quis escrever sobre minha profissão, mas achava que não era a hora. Fiquei adiando o que não era adiável, mas insisti naquela  mania  minha. A hora chegou. Quem não sabe ainda o que é ser enfermeira, vou tentar explicar do que se trata da maneira mais singela e cruel, como aprendi nesses poucos e tantos anos de trabalho. Lembro-me que um vez tinha operado o dedo da mão. Cursava o segundo ano da faculdade e tinha 19 anos. Assustada, amedrontada, sozinha e estava no meio da recuperação anestésica e ouvia: "Hoje, vou jogar tênis depois daqui." E o outro balbuciava por de trás da máscara cirúrgica: "Te contei daquela menina de conheci?". E falavam, conversavam sobre seu dia e sua rotina enquanto terminavam a sutura da minha mão. "Façam direitinho porque ela é da enfermagem e não vai querer mostrar uma mão feia no trabalho" - dizia o professor médico que acompanhava a cirurgia. Terminaram tudo rápido e nem se quer olhavam no meu rosto. Meus olhos acompanhavam tudo e eu não sentia nada no braço esquerdo. Foram embora satisfeitos. Passaram-se cinco minutos, eu estava tremendo de frio por conta da cirurgia e eu só queria chorar e sair dali. Entrou então, a figura mais importante dessa história. "Elisabete" - sorrindo- e com um copo de Nescau na mão e uma manta na outra. Chegou perto de mim, imobilizou minha mão precisamente com a faixa de forma que nem percebi que podia doer. Reparei em seu brinco e no batom que usava. Ela olhou dentro dos meus olhos. " Você deve estar com frio". Aconchegou a manta em meu corpo. Me ajudou a sentar. Pegou o copo de Nescau e me deu, gentilmente, esperando que eu tomasse cada gole daquela bebida quente e segura." Já acabou. Está tudo bem. Mais meia hora e você pode ir embora". Saiu uma lágrima da minha face, quase involuntária. Ela enxugou com a mão de luva. " Está tudo bem, fique tranquila. Esse nervosismo é normal". E saiu. Depois de tantos anos, não me lembro nada daquele dia, nem do centro cirúrgico, nem do frio. Mas daquele sorriso e da manta eu lembrei quando fiz um juramento na minha formatura. Sempre trabalhei com crianças. Terminei minha fase assistencial com aquelas bem graves da Unidade de Cuidados Intensivos. E me permiti sempre trazer uma manta simbólica para aqueles que sentiam frio. Chorei com as mães, abraçei os pais e, quase fui demitida por deixar os irmãos entrarem em meu setor. Pentiei e passei perfume com cheiro de bebê em muitas crianças antes da visita das mães. Já ninei órfãos abandonados nos hospitais como se fossem meu filho. Já lavei roupas deles em minha casa e comprei tantas outras para aquelas que não tinham o que vestir. E já sorri e fui em festas de aniversários daqueles desacreditados pelos humanos. Vi em cada dia de um plantão "ruim e pesado" - como falamos- que existe uma força maior que a manta que trago e me curvei. Cresci como ser humano vendo passos daqueles que não poderiam andar. Tive o maior contato com a fé. Alinhei meu conhecimento e meu estudo para que eu possa sempre trazer da melhor maneira possível o que um hospital pode dar. O aconchego velado nos cinco minutos a mais daquela mãe que chora na meia hora da visita. E a frieza, quase imperceptível por mim, na mão certeira nos procedimentos mais difícieis. Eu salvo vidas também. Mas não prescrevo medicamentos. Eu venho depois. E esse depois é que quero ser lembrada. Quando meu filho nasceu e quase foi para a mesmo setor que eu trabalhava, a enfermeira passou a madrugada comigo no quarto tentando fazê-lo ficar bem. Quando amanheceu, ela disse: " Espero que eu tenha feito a diferença." E fez. Hoje ele tem quatro anos, um garoto esperto e saudável. Não me recordo do obstetra. Mas, nunca vou me esquecer do que ela fez por mim. Quero fazer a diferença sempre. Sem méritos. Mas, que se lembrem que fiz o pude fazer de melhor naquele momento. Que seja naquele procedimento que consegui, que seja apenas com  um copo de Nescau, com uma manta ou com uma simples companhia.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

" Aponta pra fé e rema" - LH

Não, não. Não falo de saudade e nostalgia da vida. Falo sempre e todos os dias do que ainda não aconteceu. Se tivesse visto o mar hoje, sentaria na beira da água, nem olharia o horizonte, só a espuma indo-e-vindo. E fecharia os olhos numa condição aconchegante quase infantil. Mas, não houve se quer um momento perto disso. Coisa linda essa toda vida que faz a gente sorrir quando encontra um filhote de cachorro. Porque sorrio para o pôr-do-sol da janela do carro e acredito que seja umas das formas de driblar aquilo que me fez infeliz ontem. E, deixo algumas minhas músicas tocando e tocando pra quase tocá-las de verdade. Tenho um elo esquisito com a minha própria companhia que me deixa um pouco assustada, enfim. Loucura é viver deixando tudo de normal invadir a sua vida de tal forma que você mesmo se perde nela. Nunca tive plena normalidade. Sempre fiquei cambaleando entre lá-e-cá. Quando assumi isso em mim, adquiri uma virtude de ouvir. Não escutar. Ouvir. Ouço com o coração desprendido e aberto aos piores problemas e as melhores desgraças infortunadas da vida dos outros. Outros não. Dos amigos. E, falo, sabe? Falo o que acho daquilo e disso outro. Não julgo, não critico, choro junto e rimos no final. Porque tem que ter um sorriso lindo. E têm pessoas que sorriem com os olhos e acho isso muito bonito. A abstinência que tenho hoje não é de ninguém. É de mim mesma, daquela que já existiu e que era tão leve e engraçada. Tinha uma facilidade tão grande em enxergar tudo tão branco no dia mais cinza que chegava a me irritar quando descia cantarolando qualquer coisa pela manhã. Onde será que foi parar essa pessoa? Deve ter tropeçado por aí e ralado o joelho. E ficou sentada na escada de casa olhando a ferida que se formou. Se lamentando o por quê foi e onde foi que tropeçou. Hoje não teve beira do mar. Entretanto, teve o sorriso do filhote de cachorro. Achei tanta graça naquilo que coloquei um band-aid e fui caminhar. O joelho doía, mas não liguei como antes. Agradeci o estrago. Esperarei a cicatriz. Porque ela vem, mais cedo ou mais tarde. Hoje teve a lua iluminando a casa com as luzes apagadas. E teve o sol morninho que me fez tirar a blusa de frio e prender o cabelo pra ele bater na minha nuca. Porque hoje vi o roxo-sem-vida nos olhos de um outro qualquer. E voltei a sorrir cor-de-rosa pra a vida que amanhece todos os dias. E, ninguém dirá que é tarde demais pra nada. Da minha nostalgia esquisita, da saudades que tenho do que eu não vivi, eu digo pra mim mesma e para os amigos: fé, coragem, bandagem no coração e no joelho. A gente remenda tudo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Pronto. Hoje rasguei tudo. Abri aquela caixa que estava lá no armário guardada e escondida. Criei coragem e encarei cada foto, cada carta, cada bilhete. Porque escrevíamos cartas e eu achava aquilo tudo tão lindo. Não li tudo, eu confesso. Porque cada frase me cortava a garganta como se engolisse uma gilete. Separei o cheiro velho que as coisas traziam pelo passado. E joguei meu perfume novo que comprei na semana seguinte que você resolveu que não me amava mais. Porque eu usava o cheiro que você gostava. Mas, isso, ninguém vai entender. Porque não explico mais o que as pessoas não entendem. Fiquei sentada na borda da piscina sem água. Olhei cada azulejo azul e, por súbito, lembrei das tardes quentinhas e mornas que passei. Apaguei rápido com uma ferocidade fulgás que nem sabia que tinha. Atendi as amigas pelo celular e combinei todo o final de semana. E a vida passou como se fosse rápida e certa por cinco minutos. Conheci muitas pessoas. Me interessei por algumas delas. E, dormi sozinha abraçada no travesseiro, como o de costume. Só queria saber quando foi, quando aconteceu, aquele exato momento que ela, a vida, soprou e disse: " Você vai sozinha daqui!". Se conseguisse descobrir, me prepararia. Me organizaria de um jeito só meu e vestiria de todas as armaduras que conheço hoje. Pronta pra qualquer fato relevante que ela trouxe. Mas, não foi assim, sabe? Aconteceu de um jeito esquisito e de repente, me vi no metrô com o fone de ouvido ouvindo aquelas canções mais queridas que a solidão pode trazer. Subliando trechos de livros dóceis e cruéis. Olhando vitrines e janelas com um olhar vago e triste. E quando, hoje, levanto todos os dias, me faço a promessa de que vai ser melhor. E foi. Muitos deles foram excelentes. Mas, explicar que gosto de cartas e de flores, me fez uma mulher sozinha. E, volto a olhar a piscina sem água. Fico sentada na borda e a lua brilha lá no fundo e reflete em meus olhos. Vem um vento gelado que me faz fechar os olhos e suspirar. Não sei quando foi que a solidão flertou comigo e eu sorri. E fico dançando com ela entre uns goles e outros, entre uns cigarros acesos. Naquele vento bom da janela aberta do carro na estrada. O desafio é não se acostumar com a piscina vazia. Grudei umas fotos em preto e branco no espelho das pessoas importantes na minha vida. Mudei o vestido. Mudei o cabelo. Tentei achar graça naquilo que não tem. Tentei achar a graça em mim e não encontrei. Hoje a lua está tão querida com um sorriso discreto de gato preto que em algum momento acreditei que era por mim. Abri minha cadeira de praia na borda da piscina. Sentei. Abri uma bebida na minha caneca e fiquei flertando com ela. Ela não disse nada. Eu também não. Mas, sei que da escuridão que ela rege, tirarei o diploma de veterana. Daquele silêncio-quase-assustador: eu sorrio e a desafio com aquele sol que torço pelo amanhecer.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

" Eu te amo mãe lindona" - Enzo, 2012

Antes de ser mãe, eu não sabia o que era ficar acordada quase a noite toda observando se a febre de alguém abaixou ou não. Não sabia o que era tomar banho em cinco minutos e dividir o chuveiro com quinze bonecos de plástico. Eu tinha todo o espaço do mundo para colocar meus produtos no banheiro e não somente naquela prateleira lá em cima. Eu saía de casa com a roupa passada e limpa, e não com a camisa amarrotada e suja de Nescau porque, de repente, ele desaprendeu a descer a escada. Ia ao cinema uma vez por semana e não assistia as estréias de desenhos. Não tinha idéia que se compra roupa e sapato uma vez por mês porque eles crescem inacreditavelmente sem você perceber, só quando estamos atrasados para a festinha da amiguinha da escola e você descobre que a roupa está pequena quando vai colocar a mesma que acabou de comprar e ela não serve mais. Não sabia que existia danones com sabores de chicletes. E não me preocupava com os corantes e conservantes dos alimentos. Tinha Coca-Cola na geladeira. Não sabia que poderia virar um polvo com mais de oito mãos pra carregar a minha bolsa, a mochila dele, o casaco e a sacola de brinquedos. Usava bolsa pequena. Porque agora, tenho que pensar no espaço pra levar a blusa de frio, a troca de roupa e o lanchinho. Saía pro passeio no parque sem pensar se ia chover ou se ia fazer frio. Eu dormia sem hora pra acordar. Hoje acordo com aquele bafo de Nesquik na cara e com a janela aberta: " Mãe, já tá de dia!" - e são seis horas da madrugada de um domingo. Saía sem pensar na logística. Tinha meu quarto todo decorado com fotos de viagens só minhas. Meu guarda-roupa era só meu. Antes de ser mãe, nem sabia tirar manchas de roupas. E nunca tinha entrado em um shopping sem levar nenhuma roupa pra mim. Porque hoje, entro nas lojas dele. E, acredite, não saio com nada que não seja estampado de super heróis. Não colocava Bisnaguinha na lista de compras. Não sabia cantar músicas com apenas duas frases com rimas bizzaras, mas que ficam na cabeça por dias. Nunca tinha ido ao teatro infantil. E não sabia o quão é lindo ver nos olhos dos adultos a satisfação deles quando estão trabalhando para as crianças. Eu tinha tempo pra ir no cabelereiro e na manicure. Ninguém mexia na minha bolsa sem autorização. Não sabia que pasta de dente tem que ser sem flúor até os cinco anos de idade. Não sabia o que era ter a sensação iminente de morte quando ele está machucado porque cortou a boca e está sangrando. Não sabia que poderia tremer tanto e perder o chão quando se espera por notícias na porta do centro cirúrgico. Assistia a novela no horário da novela e não a reprise daquele desenho que ele já decorou os diálogos. Nunca tinha achado tanta graça em ir ao Zoológico e ao Simba Safari. Mas, antes de ser mãe, eu não sabia o que era cheiro de orelha de filho. E nem beijo de boa noite vindo com um "Eu te amo, mãe lindona" falado mansinho e com um olhos de admiração inesquecíveis. Não sabia o que era ter alguém sentado na cama só pra me olhar penteando o cabelo. Não sabia o quanto é delicioso ter apelidos somente nossos.  Nunca tinha recebido um bilhete de Dia das Mães com uma mão pintada de tinta. E nem sabia que dentinhos separados iriam me fazer tão feliz. Não sabia o que é ganhar um abraço apertado e sincero no meio do dia que me faz sentir tão segura  e importante. Não sabia que brincar é uma maneira tão simples de aprender e se divertir. Não sabia o que era ter tanto carinho por um par de mãozinhas pequenas e com as unhas iguais as minhas. Antes de ser mãe, não poderia imaginar que minha felicidade poderia depender de outra pessoa. Porque aprendi tantas coisas nesses seus quase quatro anos, sabe? E o melhor é aprender todos os dias que eu nada seria se você não existisse aqui comigo. E que grande parte do colorido do meu dia vem dos seus olhos marrons e de seu cabelo caramelo. #simplesassim

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mulher que é mulher ama de verdade. Se apaixona duas, três, quatro e tantas e outras vezes pela mesma pessoa se achar que ele ou ela é o amor da sua vida.Mulher de verdade usa calcinha bege e quase todos os dias não as combina com osutiã, só em dias considerados especiais, mas se esquecer, nem se importa.Mulher de verdade come chocolate escondido dela mesma. Dorme de camisetão e meia. Canta sozinha no carro. Maquia-se no espelho do elevador. Carrega uma calça jeans e outro sapato na mala do carro junto com o casaco, cachecol e o chinelo.Tudo junto e embolado dentro de uma bolsa que talvez possa precisar ou querer usar. Mulher de verdade beija de olhos fechados. Cheira nuca do namorado. Chora com filmes dramáticos e românticos. Assiste cem vezes Uma linda mulher. Já foi apaixonada pelo professor e pelo garoto malvado da escola. Mulher de verdade dirige com a janela aberta do carro na estrada e não se importa com o cabelo. Come feijoada e pede refrigerante light. Bebe cerveja e toma porre. Dança de calcinha na frente do espelho. Tem um creme, perfume, shampoo e sabonete para dias especiais e faz ele ou ela acreditar que todo esse cheiro é o normal do seu cotidiano. Tem um mini secador que dobra em cinco vezes e plim! carrega na nécessaire. Mulher de verdade trabalha igual homem e não faz fofoca no trabalho. Têm poucos e bons amigos. Amiga vira mãe, irmã, tia e muitas vezes filha. Uma simples ligação vira um diário em voz alta com direito até a dizer o que comeu no
almoço. Mulher de verdade admite que já chegou ou chega da balada descalça e de pé sujo e não toma banho, só no dia seguinte. Tem ressaca moral. Fala que ama sem querer escutar o mesmo de volta. Quer sempre emagrecer três quilos. Toma vinho sozinha no sofá da sala assistindo minisséries. Escuta a música do seu momento mil vezes por dia. Já leu livro de auto-ajuda. Já chorou e dormiu cansada de tanta tristeza e no dia seguinte ficou segurando a pedra de gelo enrolada no pano de prato contra os olhos meia hora antes de sair de casa.
Mulher de verdade gosta de receber flores e bilhetes. Gosta de futebol e de programa na TV de fofoca de artista. Carrega a foto do seu amor, filho, cachorro e do pai na carteira. Compra roupa em qualquer lugar, até no camelô se gostar da estampa. Disputa com a centopéia na quantidade de sapatos. Tem taquicardia quando abre a fatura do cartão de crédito. Mulher que é mulher perdoa de coração, não guarda mágoa ou rancor se acreditar que aquela pessoa vale à pena. Não tira ninguém da sua vida, só reorganiza as prioridades. Adora dormir abraçada, mas não pensa duas vezes em dizer que quer dormir de bruços naquele dia. Sorri, ri e conta piada. Assiste desenho. É isso tudo e muitomais. “Se não, é como amar uma mulher só linda. E daí? Uma mulher tem que terqualquer coisa além da beleza. Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora. Qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado. Uma belezaque vem da tristeza de se saber ser mulher” – Vinícuis de Moraes, Samba daBenção.

sexta-feira, 20 de abril de 2012



Hoje não dormi e nem acordei. O dia ficou branco. Não sorri. Não chorei. Tinha música no carro, eu me lembro. E a ouvi no "repeat" apertado no display do rádio. Não passei perfume. Não me maquiei. Não usei brincos e nem escolhi a roupa. Fiquei com a de ontem, mas com outra camisa. Amarrei o cabelo e só. Respondi uns "bom dia" pra poucas e boas pessoas. Não coloquei a mão pra fora do carro na estrada e nem liguei pro vento bom que vinha da janela aberta. Não fiquei no jornaleiro jogando conversa fora. Não quis ouvir minha mãe contar da novela que já tinha começado. Perdi hoje o paladar que tanto gosto, do meu prato preferido e da sobremesa linda que compensa a caloria. Não comi o chocolate derretido dentro da bolsa. Escovei os dentes com olhos fechados e tive preguiça de me olhar no espelho. Não liguei o chuveiro um minuto antes do banho pra fazer aquela fumaça aconchegante. Tomei banho gelado. Não passei creme hidratante. Tirei o esmalte escuro. Não atendi a amiga pra ouvir seu diário amoroso. Nem liguei para aquela outra contando a novidade que não aconteceu. Não fiquei com o celular do lado do prato e muito menos debaixo do travesseiro. Não olhei a lua pela janela do quarto. Não abracei meu filho e não rolei no chão com a minha cachorra. Não liguei a televisão quando cheguei em casa. Guardei o sapato usado no lugar dele e andei de chinelo em casa. Quando acordei, tirei logo o pijama e troquei de roupa. Não usei óculos escuros. Não quis ler três livros ao mesmo tempo. Fechei os olhos pra todas as pessoas que passaram ao meu lado. Não fui eu mesma por hoje, enfim. Foi uma tentativa agonizante de se achar dentro do saco de papel escuro. Tentar perceber se meu maior defeito talvez seja ser justamente eu mesma. Mudei hoje minhas manias. Mudei minha rotina. A vida passou hoje nesse dia calada, insossa e cinza. Não fiz diferença pra mim mesma. O que fica disso tudo? - pergunta o espelho do elevador. Não sei. - eu respondo. Não sei nada e cada vez sei menos. - pensei. E o que adianta não estar presente? Está com medo? Triste? - espelho teimoso. O andar do escritório nunca chegava, foram os trinta segundos mais longos da minha existência. E te fez mais feliz não fazer diferença na sua vida e nem na vida de ninguém? - a porta se abre. Saio do elevador e dou uma meia volta rápida pra respondê-lo antes que a porta se feche. Plim! - não deu tempo. Não consegui responder. Sorri. O raio de sol entrava tímido no escritório e batia na tela do computador. Senti o cheirinho de café vindo. " Poxa, pensei que você não viria. Toma seu café. Senti falta de você ontem" - colocando a mão no meu ombro, deixando o copinho na minha mesa e lascando um beijo na minha bochecha. Maria querida. A "secretária" de todos. "Ah, e vai passar uma cor nessa cara porque essa aí não é você!" - e piscou. Não é mesmo - pensei - Ainda bem! ; )

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Toda vez que reviro esta história mal digerida, mas escrita, mal lida e bem acabada, a vontade que tenho é de te ensinar a correr sem fôlego. Sem respirar quando cansado. Porque é assim, exatamente dessa maneira que me sinto. O fôlego que você disse tanto que tem ficará esquecido e quieto entre tantas e tantas palavras ditas entre linhas. Porque descubro sem querer, porque chega aos meus ouvidos sempre e quase todos os dias algo de você. O máximo que posso fazer é escutar com ouvidos surdos, mas o eco que fica - meu amigo - faz um barulho horrível. E nem aquela música mais querida disfarça esse armargor. Por quê ficou tanto tempo inerte? Por quê me fez perder o brilho? Se nem você mesmo sabe onde está o seu. Resgataria cada fio do meu cabelo que caiu em seu travesseiro. Cada gosto de lágrima que derrubei. Porque você não se conhece, não me conhece. E me perdi nessa sua confusão. E, me pergunto. Me pergunto todo maldito dia o por quê fiz isso comigo. Não. Não carrego as pessoas comigo para viver um sonho que nem sei se quero ter. Mas, hoje, lhe garanto: fugir e fingir são as piores armas de um covarde. Não comigo - ou também - mas com a vida. Continuo extremamente saudosa com ela. Fiquei de bem quando voltei a ver o brilho dos olhos, os sorrisos sinceros e as brigas reais. Porque isso é viver! Não tentarei mas lhe mostrar isso porque entre eu e você existe um obstáculo grande, forte e lindo: o coração pulsátil. Batendo sempre pela verdade. Louco e desvairado. Mas da inércia que transpira pelos seus poros, o meu tem nojo. Simples assim.

sábado, 3 de março de 2012


" Moça, olha só o que eu te escrevi: é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê!" - Los Hermanos
E ela achou graça quando ele perguntou se ela tinha medo de se apaixonar. Achou graça da perspicácia da pergunta. "Lógico que não" - respondeu mentalmente. E não respondeu nada verbalmente, só sorriu. Mas depois foi dormir com essa questão enrrolada no edredon. "Claro que tenho" veio em seguida do bom dia matinal dela para o espelho. Com o passar dos anos e acontecimentos, Ana ficava cada vez mais sem reposta para algumas perguntas simples porque aprendeu que não sabe de nada (ou quase). Porque aprendeu a não subestimar a vida. Os medos, os amores e os receios. Cada passo que dá, fica cravado na certeza de não estar sempre tão certa. Isso a faz uma pessoa cuidadosa com o futuro. Não espera mais. Só tenta enxergar além do que aquilo que se vê. Assim, até já diria uma de suas músicas prediletas. O fato é que toda vez que levanta, coloca os pés no chão gelado do quarto e sente por vezes insegurança. E, quando isso acontece, dorme abraçada no travesseiro ao anoitecer. E, certa vez, perguntaram quando ela começou a escrever. E, mais uma vez, não sabia a reposta. Porque a cabeça de Ana não pára nunca. Cada simples ato do cotidiano de alguém, ou por vezes dela mesma, se transforma em uma história, em um conto, em um desabafo. Ela registra tudo como em fotos. Umas coloridas. Outras em preto-em-branco. Hoje, quando durante um jantar em um lugar movimentadíssimo, percebeu que alguns casais compartilhavam suas comidas. Beliscavam no prato do parceiro. E achou aquilo digno de registrar em sua mente. Cumplicidade velada em um ato simples. Com golpes de pincel, Ana colore a vida. O colorido disso, por vezes, basta tão somente a ela enxergar. O desenho final nem ela sabe. Entretanto, as cores, aquelas cores sempre estarão nela. E, estas são umas das poucas respostas que Ana tem na ponta de língua. Suas cores ilustram quem é. Uma cor-de-rosa solta, no céu azul, tentando fazer daquele amarelo o seu dia.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tempo, mano velho.







E quanto tempo fica até ter a capacidade de não lembrar mais? Quanto tempo dura o cheiro impregnado? Na roupa, no cabelo, na casa, na sala, em você? Em mim. Tempo, mano velho, vem e faz voar tudo o que não existiu daqui pra longe. Bem longe. Não esse longe que fica perto do coração. E sim, daquele que a gente ri quando lembra. Quando relembra. Daquele que congela no passado e deixa o presente lindo e querido existir. Vento bom, oferece à brisa fria pra bater desses lados daqui e leva como a onda do mar. Mar, traga aquela espuma branca que renova o pedido eterno de esperança. Tempo, enrrugue meus olhos com sabedoria. Faça-os enxergar o verdadeiro. Olhos, deixe meu coração depois de você. Ensine-o a bater depois de uns dias. Que o sangue que vem dele, viva pelo meu corpo. Tudo junto numa coisa só. Traga minha alma de volta. Aquela que foi livre um dia. Sentir-se presa sem correntes talvez seja a pior sensação de quem tem asas. Mais fácil voar. Hoje, tempo, lhe peço: me ensine apenas a caminhar. Pode ser passos curtos e pequenos. Não tem problema. As rugas envolta dos meus olhos e das noites mal dormidas me ensinaram que a ansiedade é um inimigo nato. Mas, tenho ânsia, sabe? Tenho essa ansiedade velada nas asas que batem para saber onde esse cheiro termina. Que me pertuba, que me deixam lágrimas quietas e solitárias. Encobertas pelo sorriso largo que você já conhece. Vida,

refaça suas perguntas. Lhe garanto que as respostas não serão as mesmas. Foram reformuladas criteriosamente dentre tantas erradas. As corretas ficaram. Energia emanada ao Universo, voe com esse tempo esquisito e justo pela vida. Mas, venha pra mim. Venha sempre que achar necessário. Porque a espero. Espero em uma ansiedade-quase-calma que inventei. Porque o cheiro nem existe mais. Nem sei se existiu um dia ou eu o criei. As pegadas ficaram na areia. Mas, sabiamente, foram apagas pela espuma branca daquela onda. E minhas asas estão batendo tanto que a brisa levou tudo aquilo que eu me perguntava o por quê estavam presas. Tenho as suas respostas, mas preciso que você faça novamente suas perguntas. Simples assim.







quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Seu sorriso. Meu sorriso.



Eu gostava de receber cartas. Lembro-me que as trocava com amiga do colégio. E olha que a gente conversava todos os dias. Mas, sempre tinha alguma coisa que não falávamos e depois escrevíamos. Colecionava adesivos. E as músicas eram ouvidas com disc-man. Devo estar ficando velha. Velha não. Vintage. Balzaquinana. Dessas que olham pra trás e acha tudo tão lindo. Hoje o mundo gira mais rápido que ontem e acredito mesmo que nos perdemos. Outro dia, estava rindo com uma amiga minha (que não cheguei a trocar cartas), que eu tinha um BIP. Daqueles que as pessoas dizia que queriam falar com você e corríamos para o orelhão. Hoje já nem vejo mais orelhões. Porque existe um celular para cada dois habitantes no mundo. Acho que nem existia a palavra conectividade no Aurélio. Se bem que hoje nem existe mais Aurélio. Existe Google. Entretanto, pode existir tablets no lugar de agenda, Mp sei-lá-o-quê no lugar de CD. Aplicativos para decidir que cor de calcinha usar. Pode exisitir tudo isso e mais um pouco. Um amigo na Turquia, na China e outro no Brasil e se falarem todos os dias pelo Sky. Mas, nada, nada nessa vida substitui o cinema juntos. A conversa boa regada a uma cervejinha com risadas gostosas e sonoras. Nada substitui receber flores. Falar bom dia ao vivo. Abraçar quem se quer bem. Nenhum you tube substitui o arrepio de ver seu cantor ou banda preferida em um show, lá no palco, sem a tela do computador, net ou notbook lhe separando. Energia. Nenhum facebook substitui aquelas conversas longas pra você contar quem é, o quê viveu, essas coisas. Dessas que fazem as pessoas se aproximarem, se gostarem, serem amigos e se amarem. Sinto falta das cartas. Sinto falta das coisas simples. Do contato. Meus amigos sempre estavam e estarão presentes. Eu sei. Mas desses que falo, são aqueles que conheci e que cultivamos o amor sem essa tal de conectividade fazer parte das nossas vidas. E eles permaneceram de tal forma que nenhum e-mail substitui nossa tarde. Seja ela com sorvete, seja ela com viagem, seja ela com churrasco ou seja ela com uma noitada. Somos a geração do avanço, da tecnologia devassa nas nossas vidas. Entretanto, fomos criados com aquelas cartas, com desenhos sem violência e com respeito. Está aí. Tenho os melhores homens e as melhores mulheres ao meu lado. E viva a conectividade do blogg para que vocês possam ler isso! Porém, tenho dito que nada me faz tão feliz do que ver o sorriso de vocês.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012





"Chorei três horas, depois dormi dois dias.Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total." - Caio Fernando Abreu.



E a gente fica assim então. Ás vezes é melhor nem dizer tudo aquilo que era pra ser dito. Porque você não atendeu, ou porque eu não liguei. Mas, sabemos. Sabemos que houve um dia naquele exato instante que você irritou-se e eu calei. E aquilo tudo que era tão grande ficou pequeno porque as lágrimas enrrugaram as frases e elas simplesmente secaram. E hoje acordo daquele choro desesperado e só consigo suspirar. E respirar. Não sei se dormi. Acho que sonhei. Desses que você acorda quando vai tombar no chão do penhasco. Daquele que ficou entre mim e você. E que lindo ficou. Ficou cinza encoberto. Com umas nuvens com gotas de chuva a cair. A tempestade emerge quando a saudade chega ao lado do coração. Mas não entra. Do penhasco eu olho daqui de cima, desse meu lado só meu. E, você pode não acreditar, porém, eu sorrio. Um sorriso sem graça, quase nervoso. É o que eu tenho pra dar nisso tudo. Porque já dei tanto pra essa cena que hoje cansei, sabe? Visto a corda que estica-e-volta tipo bungee jumping. Chego até lá e volto. O frio na barriga compensa até hoje. Como quando fecho meus olhos e lembro do seu sorriso e da sua escova de dente do lado da minha. Entretanto, como toda aventura, chega um dia que ela vai dar mais enjôo do que alegria. E esse dia vai chegar. Hoje a corda ficou enrrolada na mochila. Não pulei com todo meu corpo. Só imaginei. Só lembrei. Só pensei. E eu lhe digo, vai chegar um dia que vou acordar e não vou querer preencher o vazio que ficou com um salto no penhasco. Só vou ficar olhando daqui de cima e isso já vai me fazer feliz. O frio na barriga não compensa mais o desgaste. Aí vou ter a certeza que não sonhei. Simplesmente vivi.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Metrô e outras coisas afins ....



E hoje quando me olho no espelho não me vejo mais. O reflexo que volta é de uma pessoa crescida pela vida. E fica um tanto quanto engraçado porque o coração sorri escondido como aquele quando tinha dezoito anos. E essa linha que fica entre lá e cá esticada entre uma coisa e outra. E me faz assim. Desse jeito diferente. Até hoje me pergunto se isso é bom ou não. Só sei que páro pra ver a lua. E olho por entre as frestas da janela do meu quarto. Mas, devo confessar que já fiquei sentada no chão do banheiro porque a imagem da janela de lá era melhor. O reflexo batia no azulejo e deixa o chão tão claro que parecia dia, parecia o amanhecer. Se me perguntassem qual é o melhor lugar do mundo, eu responderia que era na beira do mar no fim de tarde. Daqueles que o sol é morno e fica assim beijando a água que você fica em dúvida onde começa um e termina o outro. E que o melhor dia da minha vida foi aquele que ainda está por vir. E se me perguntassem qual é o meu hobby, eu responderia que é observar as pessoas. Ontem no metrô tinha uma menina-garota-mulher que conversava no celular com o amor. Não sei o quê ele dizia. Mas ela tinha um olhar de felicidade que me deu gosto de ver. Dessas de sessão da tarde e comédia romântica. De calcinha cor-de-rosa bebê. Em um milésimo de segundo ela percebeu que eu estava olhando e escutando o bate-papo. Sorriu. Sorri de volta. O vagão chacoalhava lentamente e em um súbito gesto, ela disse: " Vou tirar meus óculos pra você!". E tirou o óculos de grau. Como se ele pudesse ver. E cochichou. Achei aquilo tão lindo. Ninguém percebeu. Mas eu vi. Ela desceu na próxima estação e olhou pra trás me procurando. Cruzamos o olhar. Sorri novamente. E é disso que eu falo. Das pessoas que existem e são diferentes. Quanto menos procuro, mais eu encontro. Ainda bem. Acredito que são elas que fazem tudo isso valer a pena. Varro a lua no chão do meu banheiro. E a linha que existe cada vez fica mais esticada. Dentre o que se espera e o quê faz de você mais bonito.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

E o futuro começou ontem







E para aqueles que chegaram agora ... aconselho a começar a ler por aqui mesmo. Como sábias palavras de domínio popular, eu lhes digo: " O passado passa". E eu, como uma boa saudosa pela vida, esperançosa em que tudo possa melhorar desde que você queira e deseje de olhos fechados, tive a oportunidade de passar tudo com um ferro de roupa bem antigo. Daquele ferro suficientemente pesado para engomar o passado de forma clara e bela. Passei cada motivo pelo qual tinha escrito os textos que estavam por aqui. Depois de todos bem esticados, dobrei um por um e guardei todos em uma caixa mágica. Abri a porta de correr do meu guarda-roupa e subi na primeira gaveta para me equilibrar. Coloquei a caixa na última prateleira lá de cima. Consigo vê-la toda vez que as portas se abrem. Mas vejo só a etiqueta que escrevi. Fechada e guardada. Perto dos olhos pra eu saber que ela está lá. Mas longe do meu dia-a-dia de hoje em diante. Não preciso abrir e remoer tudo pra saber o que tem nela. O que eu quero mesmo a partir de hoje é juntar muitas e muitas mais peças, textos, sorrisos, rostos e amores pra montar uma outra caixa. E se eu tiver vontade de guardar novamente? Guardarei. Viverei. Amarei. Sofrerei. Veremos o que vai acontecer. Se for bom ou ruim o suficiente, estará aqui escrito, editado, reformulado, mas por hora (propositalmente com "h"), não será passado.