Não, não. Não falo de saudade e nostalgia da vida. Falo sempre e todos os dias do que ainda não aconteceu. Se tivesse visto o mar hoje, sentaria na beira da água, nem olharia o horizonte, só a espuma indo-e-vindo. E fecharia os olhos numa condição aconchegante quase infantil. Mas, não houve se quer um momento perto disso. Coisa linda essa toda vida que faz a gente sorrir quando encontra um filhote de cachorro. Porque sorrio para o pôr-do-sol da janela do carro e acredito que seja umas das formas de driblar aquilo que me fez infeliz ontem. E, deixo algumas minhas músicas tocando e tocando pra quase tocá-las de verdade. Tenho um elo esquisito com a minha própria companhia que me deixa um pouco assustada, enfim. Loucura é viver deixando tudo de normal invadir a sua vida de tal forma que você mesmo se perde nela. Nunca tive plena normalidade. Sempre fiquei cambaleando entre lá-e-cá. Quando assumi isso em mim, adquiri uma virtude de ouvir. Não escutar. Ouvir. Ouço com o coração desprendido e aberto aos piores problemas e as melhores desgraças infortunadas da vida dos outros. Outros não. Dos amigos. E, falo, sabe? Falo o que acho daquilo e disso outro. Não julgo, não critico, choro junto e rimos no final. Porque tem que ter um sorriso lindo. E têm pessoas que sorriem com os olhos e acho isso muito bonito. A abstinência que tenho hoje não é de ninguém. É de mim mesma, daquela que já existiu e que era tão leve e engraçada. Tinha uma facilidade tão grande em enxergar tudo tão branco no dia mais cinza que chegava a me irritar quando descia cantarolando qualquer coisa pela manhã. Onde será que foi parar essa pessoa? Deve ter tropeçado por aí e ralado o joelho. E ficou sentada na escada de casa olhando a ferida que se formou. Se lamentando o por quê foi e onde foi que tropeçou. Hoje não teve beira do mar. Entretanto, teve o sorriso do filhote de cachorro. Achei tanta graça naquilo que coloquei um band-aid e fui caminhar. O joelho doía, mas não liguei como antes. Agradeci o estrago. Esperarei a cicatriz. Porque ela vem, mais cedo ou mais tarde. Hoje teve a lua iluminando a casa com as luzes apagadas. E teve o sol morninho que me fez tirar a blusa de frio e prender o cabelo pra ele bater na minha nuca. Porque hoje vi o roxo-sem-vida nos olhos de um outro qualquer. E voltei a sorrir cor-de-rosa pra a vida que amanhece todos os dias. E, ninguém dirá que é tarde demais pra nada. Da minha nostalgia esquisita, da saudades que tenho do que eu não vivi, eu digo pra mim mesma e para os amigos: fé, coragem, bandagem no coração e no joelho. A gente remenda tudo.
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