Aos poucos e bons. Sempre.

Aos poucos e bons. Sempre.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Desejo a lua iluminando minha cama pela fresta da janela. Desejo pôr-do-sol na beira da praia. Na canga furada. Desejo cheiro de roupa limpa no início do dia. Desejo sorriso de doer a barriga. Desejo aquele frio na nuca. Desejo sensação de família reunida no almoço de domingo. Desejo ver TV de domingo abraçada e acalentada. Desejo aquela sensação boa de pagar as contas. Desejo o cheiro bom da comida feita pelo pai. Desejo o sorriso de cumplicidade de quem trabalha comigo. Desejo a companhia dos meus poucos e bons amigos. Desejo a ressaca dos problemas inundados e superados. Desejo o cheiro de cangote da minha cachorra. Desejo a esperança da viagem de férias. Desejo ter mais sapatos. E mais brincos. E mais anéis. Desejo ter menos 5 kilos. Desejo terminar os três livros que leio ao mesmo tempo. Desejo acreditar mais na minha intuição. Desejo acreditar mais nas pessoas. Desejo que meu dia tenha trinta horas. Desejo não magoar mais ninguém. Desejo acordar e acreditar que estou no lugar certo na hora correta. Desejo dormir tranquila. Com aquele som da TV baixinha. Desejo dizer "eu preciso dizer que te amo". Desejo acordar e pensar em alguém. Desejo não ter medo. De nada. Desejo não me sentir só lutando contra a maré. Desejo ser leve. Desejo não provar que consigo. Que estou bem. Desejo que a vida sorria pra mim como eu sorrio pra ela. Desejo descobrir muitas músicas que falem de mim. Desejo fotos tiradas por mim da minha cidade querida que me acolheu silenciosamente de novo. Desejo meu cigarro na janela. Com o meu copo do lado. Pensando no amanhã. Desejo o sorriso do meu moleque. Desejo meu futuro. Numa inquietude quase infantil. Desejo Clarice, Rubem Fonseca e Charle Bukowski. Apesar de ninguém achar que tenho meus 32 anos, hoje olhei minha mão. Estava enrrugada e velha, na melhor representatividade do que sou. E sorri. É, Dona Clarice, o que a gente deseja talvez não tenha tem nome. Eu me arriscaria a dizer que talvez tenha: VIDA! : )
 

quarta-feira, 13 de março de 2013

A casa nova.


A casa nova tem cheiro de esperança. E, como diria um amigo meu, fácil é me tirar da Zona Leste. Difícil é tirar a Zona Leste de mim. E foi bem isso mesmo. Depois te der voltado pra São Paulo há cerca de dois anos e meio, procurei muito pela casa nova. Vi apartamentos no centro, na Zona Sul, em todos aqueles lugares que ficavam 20 minutos do trabalho. Não me interessava por nenhum. E voltava frustada por não ter 500 mil para dar em 60 m2. Ficava remoendo a acolhida do meus pais como castigo. Olhava o quintal  deles com aquele desgosto de terrota. E, então, um belo dia parei no semáforo na Penha e olhei pra direita. Lembro que era um dia quente. "VENDE-SE SOBRADOS" - eu li. Parei o carro e desci com a maior contrariedade de todas. Entrei e lá estava ela. A casa nova. Pequena. Sobrado, quintal com churrasqueira, terceiro andar com sótão de escada de correr pra baixo como filme. Senti o cheiro de felicidade. Era lá. Hoje fazem 6 meses que isso aconteceu. Da papelada toda, de toda a reforma e dos acabamentos necessários. Da pausa pela falta de grana. Mas, confesso que quando o dia era muito ruim, pegava a chave e entrava. Ficava sentada na escada. Ficava imaginando como poderia ser, ou melhor, como queria que fosse. Olhava aquilo tudo e sorria. Tinha achado. "Está aqui meu futuro!"- eu pensava. E escolhi cada detalhe dela. Da torneira do tanque a cozinha "igual da Ana Maria Braga". Porque era um sonho quase infantil, mas que me faria me sentir bem. Calculei cada cm do orçamento do que queria pra mim. A viagem pra Paris não vai vir tão cedo. Mas, hoje quando entrei e vi o sonho realizado eu me senti completa. Viva. Vendo meu pai com o orgulho quase estampado em seus olhos em instalar todas as fiações elétricas. Eu sei que o ventilador de teto desligará a geladeira. Mas quem se importa? E tem o clube do lado. Vamos à piscina aos finais de semana. E tem jeito-bairro-simplicidade de Zona Leste. Vai ter churros da combi. Vai ter produtos de limpeza sendo anunciados em carroceria velha de caminhão. Vai ter um pouquinho da minha infância. A bandeira do meu time vai pra sacada. Os vizinhos vão ser pessoas normais, vou escutar briga de marido e mulher e o grito de gol vindo do jogo. E agora sim, a "casa do clube" - como diria minha melhor amiga - vai estar disposta pra aliar a meu amor por estar de volta  a essa cidade linda pra poucos e pra receber de verdade os meus amigos. Com direito a feijoada, dobradinha e churrasco preparados por mim. E nas vésperas do meu aniversário, não poderia dizer algo mais justo do que: " MI CASA. SU CASA". Logo menos um open house geral pra malandragem.

segunda-feira, 11 de março de 2013

 
De uma conversa daqui. Uns diálogos de lá. Veio minha inquieta vontade de escrever sobre essa meia idade. Daquela que já passou dos 30. Se bem que nem posso chamar de meia idade. Porque já adotaram esse termo pra outra faixa etária. Somos, então, antes de mais nada, um setor da sociedade sem classificação. Quando leio ou ouço "um jovem de 30 anos" já descordo de antemão. Não somos mais jovens. Somos um meio adulto, ou quase isso. Na verdade, somos tão mais adultos que muitos senhores e bem mais jovens que muitos adolescentes. Quem tem mais de 30 já entendeu que a vida não é fácil pra ninguém. Que você não é a pessoa mais importante do Universo. Aprendemos que não adianta chorar sentado em cima dos problemas. Eles existem e você terá que fazer o seu melhor para torná-los amenos. Aprendeu que a sua família sempre estará contigo. E que os seus amigos caberão em uma mão quando contá-los. Mas, esses, dariam a vida por você. E você daria a sua por eles. As pessoas de mais de trinta já choraram por amor. Mas, sabem que é no desamor que aprendem verdadeiramente o que é amar. Porque não aceitamos mais errar. A mão fria, a taquicardia, a ansiedade existe. Você pode até ficar com medo. Porém, já sabe muito bem o que fazer e o que não fazer pra que tudo isso jogue a seu favor e não contra. Se não o fez, foi porque escolheu que não. Porque já aprendemos que a vida é feita de escolhas. E por mais clichê que isso possa soar, é nessa idade que entendemos que existe consequências. E, então, tentamos escolher sempre a melhor forma, a melhor atitude, a melhor frase e dar o melhor sorriso. O melhor de si. E queremos o melhor da vida. Pois bem. Rimos dos caras coloridos que dizem fazer música porque somos daquele tempo do Legião Urbana. E não entendemos mais as gírias modernas. Nós nos adaptamos. Temos Iphone, Tablet, não imprimos mais papel. Entretanto, temos saudades do cheiro de álcool da prova rodada no "mimeógrafo". (Quem lembra?). Sorrimos quando trouxeram de novo o chocolate Lollo. Aprendemos que saudosismo é amadurecer. E, de repente, temos saudades do cheiro do colo da vó. Estamos quase prontos pra essa montanha russa. Mas, foi uma mudança tão rápida que a minha geração dos Anos 80 ficou gravada apenas pelas roupas coloridas. O engraçado que se bem me lembro, a internet (pelo menos para mim) chegou quando eu tinha uns 21. E parece que foi ontem. Esse mundo está muito mais depressa que podemos posso perceber. Mas sabe? Nos meus 32 anos quase completos, sou uma workaholic paulista, modo on 24 horas e tal, escondendo minhas tatuagens e meu cabelo raspado nas laterais com roupas sociais no melhor trejeito mulher madura. E  o que tenho saudades mesmo é das coisas mais simples. Tenho saudades das lições de caligrafia. E tenho saudades da minha própria letra. Porque em tempos atuais, até canetas até estão em extinção. E se não está fácil pra elas - as canetas-, imaginem pra nós, os órfãos de lá com a conectividade de cá. Lembro-me que gritava pra minha mãe que quando crescer iria ser muito diferente dela. E hoje, nesse silêncio do computador e do barulhinho das teclas aceleradas para esse texto ficar pronto eu digo a melhor frase que esses meus 32 poderia me trazer: Queria mesmo era viver como meus pais. E, concordo em gênero número e grau com o Sr. Nelson Rodrigues:" Jovens, envelheçam".
 
E por quê Maria Rita ao ivés de Elis?
Porque até ela amadureceu e viu que amar a mãe fez dela algo melhor.
E isso, eu aprendi.
Vem vida! Meus 33 estão te esperando!
 

quinta-feira, 7 de março de 2013


SP. 5:30 hs. Alarme. Soneca. 15 minutos.  Já atrasada. Ressaca. Levanta. Banho quente. Escova o dente no chuveiro. Toalha lilás. Cheiro de cachorro molhado. Espelho. Sorriso. Piscada. Bom dia do adesivo grudado ao lado. TV baixinha. Noticiário. Secador. Creme hidratante. Cheiro de Moça Bonita. Desodorante três vezes. Perfume. Armário. Roupa social. Desce. Café na cafeteira quebrada. Leite gelado. Pão na maquininha. TV da sala baixinho. Computador ligado. E-mails respondidos na velocidade da luz. Raios de sol. 6:30 hs. Sobe. Acorda o filhote. Deita 5 minutos. Bafo de leão de moleque crescido. Chantagem da vida. " Você vai me buscar hoje?". Silêncio. Arrasta pro banho. Brinquedos imersos no shampoo caro. Desce. Nesquik com leite morninho. Sobe. Toalha azul. Cheiro de limpeza. Sorriso. " Tamo junto, né?". Toque de mão. Piscada e selinho. Uniforme. Escolhe meia combinando com a cueca box. Nesquik no uniforme. Estresse. Fecho os olhos. Descemos. Recado na agenda. Lanche. Fecha o computador. Mala 1, bolsa 2, mochila 3. Carro. Brijite pula. Suja os dois. Estresse. Fecho os olhos. Carro. História de geminiano. Fofoca do amigo. Escola. Selinho. " Te amo". Carro. Rádio. CBN. Trânsito. 8:00 hs. Atrasada. Celular. Fone. Óculos escuros. Chefe. Estresse. Primeiro cigarro do dia. Sol lindo. Cidade apressada. Foto da janela do detalhe. Facebook. " Bom dia flor do dia!" - melhor amiga no Whatsapp...  Cliente. Reunião. Estresse. Fecho os olhos. Café carioca na padaria. Celular. 10:30 hs. Carro. Trânsito. 89 Rádio Rock. Canto no inglês da ZL. Celular. Segundo cigarro do dia. Reunião. Estresse. Fecho os olhos. Mas, dessa vez, suspiro. 12:00 hs. Evento social paulistano. Almoço com a amiga. Risada solta. Limonada batida com açúcar e brigadeiro. Confidências. Amores. "Causos". Beijo, outro, tchau. Sol. Carro. Ar condicionado no último. Rádio. Celular. E-mails. Resposta rápida. Cliente. Reunião. Estresse. 16:00 hs. Atrasada. Celular. Fone. Chefe. Excel. Metas. Números. 16:30 hs. Trânsito. Lembro da chantagem da vida. Amiga faz sorrir no Whatsapp. Cigarro. Água com gás. Celular. Cliente. Elogio. Sorrio. Chiclete. Música alta. Janela fechada. Escola. Moleque sujo. Estresse. Sorrio. 18:00 hs. Janta. Geladeira vazia. "Bora comer camarão?". " Siiiiimmmmmm.". Restaurante. Amigo Whatsapp. Sorrio. Descasco um por um. Fanta Uva pra fazer xixi roxo. Sorrio. Nos divertimos. 19:30hs. Carro. Filhote dorme. 20:00 hs. Casa. Suor de carregar 17 kg mais 5 de mochila. Celular. Chefe. Estresse. Trabalho pra noite. Ele dorme. Computador aberto. E-mails. Cerveja no sofá. 5 delas, talvez. Fone. Cigarro na janela. O dia acabou. Whatsaap da amiga falando do Big Brother. Sorrio. 21:00 hs. Trabalho feito. Facebook. Blog. 23:00 hs. Subo. Quarto. TV baixinha. Pijama. Mensagem no celular:
" Acabou."
E fazendo essa retrospectiva, talvez fictícia, ou não.
Essa é minha vida. Não esteve nela em nenhum momento.
E eu pergunto:
"Quando foi que começou?"
Eu vivo com medo e vou com ele mesmo.

domingo, 3 de março de 2013

Faltava esse texto. Como tantos outros, eu sei. Mas esse já estava escrito há cerca de dois anos em mim. Uma tatuagem gravada mais na alma do que na pele como muitas que já tenho. Só respeitei e amei de verdade minha mãe quando me tornei uma. Sem clichê. Só maturidade mesmo. Enfim. Mas não vou falar dela. Nem daquelas que que enfrentam essa vida com alguém do lado. Vou falar das bandas de cá. Das solteiras. Ser mãe solteira é aguentar uma barra três vezes maior que o seu peso. Como aquela história que diz que a formiga carrega cem vezes o seu peso. Temos força pra dizer que somos uma família com a conta matemática somada em dois. Fazemos mercado, unha, cabelo, açougue, shopping, restaurante, parque, praia, clube e cinema com o rebento a tira colo. Assustamos nas festinhas de aniversário. E não somos convidadas para a próxima porque existe um preconceito velado das famílias convencionais. E, garanto, isso existe. A professora do colégio olha com cara de piedade, por mais que você apareça linda na reunião da escola. As mães convencionais te olham de uma maneira que diz na quietude das palavras as frases mais duras que você pode ouvir. Ser mãe solteira é assustar o cara no segundo encontro. Quando ele acha que seu sorriso poderá fazê-lo fazer parte da vida dele. Mal ele sabe que sua vida está completa. Há de separar a mãe solteira da mulher solteira. Porque continuamos mulher. Ainda acreditamos no amor. Só não aconteceu daquela vez. E pode acontecer depois. E acreditamos nisso. Não queremos ninguém pra pagar as contas e pra assumir aquilo que já assumimos. O jantar ainda é jantar a dois. Mas o celular estará do lado. E a foto ficaria muito mais linda se você estivesse lá também. Um complemento na vida quase completa. Na esperança de óculos de que gritaríamos pro mundo que a felicidade pode existir nos mais belos lugares. E então, fico assim. Vivendo você que tem medo de mim.