Aos poucos e bons. Sempre.

Aos poucos e bons. Sempre.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Pronto. Hoje rasguei tudo. Abri aquela caixa que estava lá no armário guardada e escondida. Criei coragem e encarei cada foto, cada carta, cada bilhete. Porque escrevíamos cartas e eu achava aquilo tudo tão lindo. Não li tudo, eu confesso. Porque cada frase me cortava a garganta como se engolisse uma gilete. Separei o cheiro velho que as coisas traziam pelo passado. E joguei meu perfume novo que comprei na semana seguinte que você resolveu que não me amava mais. Porque eu usava o cheiro que você gostava. Mas, isso, ninguém vai entender. Porque não explico mais o que as pessoas não entendem. Fiquei sentada na borda da piscina sem água. Olhei cada azulejo azul e, por súbito, lembrei das tardes quentinhas e mornas que passei. Apaguei rápido com uma ferocidade fulgás que nem sabia que tinha. Atendi as amigas pelo celular e combinei todo o final de semana. E a vida passou como se fosse rápida e certa por cinco minutos. Conheci muitas pessoas. Me interessei por algumas delas. E, dormi sozinha abraçada no travesseiro, como o de costume. Só queria saber quando foi, quando aconteceu, aquele exato momento que ela, a vida, soprou e disse: " Você vai sozinha daqui!". Se conseguisse descobrir, me prepararia. Me organizaria de um jeito só meu e vestiria de todas as armaduras que conheço hoje. Pronta pra qualquer fato relevante que ela trouxe. Mas, não foi assim, sabe? Aconteceu de um jeito esquisito e de repente, me vi no metrô com o fone de ouvido ouvindo aquelas canções mais queridas que a solidão pode trazer. Subliando trechos de livros dóceis e cruéis. Olhando vitrines e janelas com um olhar vago e triste. E quando, hoje, levanto todos os dias, me faço a promessa de que vai ser melhor. E foi. Muitos deles foram excelentes. Mas, explicar que gosto de cartas e de flores, me fez uma mulher sozinha. E, volto a olhar a piscina sem água. Fico sentada na borda e a lua brilha lá no fundo e reflete em meus olhos. Vem um vento gelado que me faz fechar os olhos e suspirar. Não sei quando foi que a solidão flertou comigo e eu sorri. E fico dançando com ela entre uns goles e outros, entre uns cigarros acesos. Naquele vento bom da janela aberta do carro na estrada. O desafio é não se acostumar com a piscina vazia. Grudei umas fotos em preto e branco no espelho das pessoas importantes na minha vida. Mudei o vestido. Mudei o cabelo. Tentei achar graça naquilo que não tem. Tentei achar a graça em mim e não encontrei. Hoje a lua está tão querida com um sorriso discreto de gato preto que em algum momento acreditei que era por mim. Abri minha cadeira de praia na borda da piscina. Sentei. Abri uma bebida na minha caneca e fiquei flertando com ela. Ela não disse nada. Eu também não. Mas, sei que da escuridão que ela rege, tirarei o diploma de veterana. Daquele silêncio-quase-assustador: eu sorrio e a desafio com aquele sol que torço pelo amanhecer.