" Moça, olha só o que eu te escrevi: é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê!" - Los Hermanos
E ela achou graça quando ele perguntou se ela tinha medo de se apaixonar. Achou graça da perspicácia da pergunta. "Lógico que não" - respondeu mentalmente. E não respondeu nada verbalmente, só sorriu. Mas depois foi dormir com essa questão enrrolada no edredon. "Claro que tenho" veio em seguida do bom dia matinal dela para o espelho. Com o passar dos anos e acontecimentos, Ana ficava cada vez mais sem reposta para algumas perguntas simples porque aprendeu que não sabe de nada (ou quase). Porque aprendeu a não subestimar a vida. Os medos, os amores e os receios. Cada passo que dá, fica cravado na certeza de não estar sempre tão certa. Isso a faz uma pessoa cuidadosa com o futuro. Não espera mais. Só tenta enxergar além do que aquilo que se vê. Assim, até já diria uma de suas músicas prediletas. O fato é que toda vez que levanta, coloca os pés no chão gelado do quarto e sente por vezes insegurança. E, quando isso acontece, dorme abraçada no travesseiro ao anoitecer. E, certa vez, perguntaram quando ela começou a escrever. E, mais uma vez, não sabia a reposta. Porque a cabeça de Ana não pára nunca. Cada simples ato do cotidiano de alguém, ou por vezes dela mesma, se transforma em uma história, em um conto, em um desabafo. Ela registra tudo como em fotos. Umas coloridas. Outras em preto-em-branco. Hoje, quando durante um jantar em um lugar movimentadíssimo, percebeu que alguns casais compartilhavam suas comidas. Beliscavam no prato do parceiro. E achou aquilo digno de registrar em sua mente. Cumplicidade velada em um ato simples. Com golpes de pincel, Ana colore a vida. O colorido disso, por vezes, basta tão somente a ela enxergar. O desenho final nem ela sabe. Entretanto, as cores, aquelas cores sempre estarão nela. E, estas são umas das poucas respostas que Ana tem na ponta de língua. Suas cores ilustram quem é. Uma cor-de-rosa solta, no céu azul, tentando fazer daquele amarelo o seu dia.
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