Aos poucos e bons. Sempre.

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sábado, 13 de julho de 2013

Elis e eles. Por eles mesmos com o amor.

 
 
Elis chegou descalça e bêbada. Tinha os olhos de ressaca feito Capitu. Havia chorado e interpretado uma música nova que lhe cortou a alma. Puxou uma cadeira e aconchegou a si mesma como quem procura um afago calada. "Bicho, essa coisa toda de sentir me fez feliz e triste hoje, saca?" E sorriu com aquela gengiva a mostra. Sentou segurando uma das pernas. Era a única mulher da roda. Charles puxou o último ar do cigarro, segurou a guimba com as pontas dos dedos, entornou o último gole de seu whisky marrom caramelo sem gelo do copo e disse: " Encontre o que você ama e ele te matará". Elis acendeu um cigarro e piscou olhando fundo em seus olhos. "Ei, Vinícius. Toca alguma coisa pra gente" - ela disse. "Garçom, desce uma gelada pra essa mulher linda de alma." - ordenou Vinícius. Como um excelente sedutor, serviu a moça olhando em seus olhos. Serviu seu copo. Passou levemente a mão em seu rosto como um carinho despretencioso. Sacou o violão do colo e com uma voz rouca cantou resmungando da maneira mais baixinha e possível, prendendo o cigarro entre os lábios e poetizou enquanto todos se calavam. "Se não, é como amar uma mulher só linda. E daí? Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza. Qualquer coisa de triste. Qualquer coisa que chora. Qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado. Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher. Feita apenas para amar. Pra sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão". Simonal arrumou seu lenço com as mãos grandes e negras. Buscou seu óculos escuros no bolso, os colocou com a melhor gingada de malandro e soltou aquela gargalhada deliciosa. " Nem vem que não tem. Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa ...". Voltando, obviamente, a sua pilantragem com uma musiquinha para machucar os corações. Caio apoiou o queixo na mão encostada nas pernas cruzadas, subiu seu óculos de grau analisando aquele bate papo quase que dinâmico com uma timidez relutante e mandou: "Desde que ganhei o meu PhD em desilusão amorosa, tenho me divertido como nunca". Cartola, o mais velho de todos ali na mesa, ficou inquieto com a discussão. Encheu seu copo. E numa tristeza quase que palpável, disse: " Ouça me bem amor, preste atenção. O mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos. Vai reduzir as ilusões a pó." E completou, acendendo um cigarro. "Às vezes tenho que andar a procurar, rir pra não chorar, ver o sol nascer, ver as águas dos rios correr e ouvir os pássaros cantar". Cazuza estava bolando um cigarro diferente dos demais. Encheu o copo do whisky de Charles. "Elis. Sabe o que me machuca mesmo assim como um revólver que atira em meu coração?Elis soltou aquele sorriso lindo mostrando seus dentes todos. Puxou a cabeça do Cazuza para o seu colo entornando mais um gole de seu copo, batento a bituca no cinzeiro central da mesa. Fez um cafuné rápido como quem acaricia um filho. Ele: "Você me chora dores de outro amor. Se abre e acaba comigo. E nessa novela, eu não quero ser teu amigo. É que eu preciso dizer que te amo." Renato gravava tudo em seu gravador de bolso. Queria ter aquele bate papo para as suas histórias e futuros poemas e prosas que se tornariam músicas. Ouvia silenciosamente. Usava uma blusa branca meio hippie chic. Acendia um cigarro atrás do outro e tomava um vinho tinto em uma taça de boca larga. "Gente, escrevi uma música a um tempo atrás. Acho que, talvez, a letra pode resumir tudo isso aqui que estamos vivendo. Ela dizia mais ou menos assim: " O sistema é mau, mas minha turma é legal. Viver é foda. Morrer é difícil. Te ver é uma necessidade, vamos fazer um filme". TODOS riram. Elis subiu na mesa e puxou um brinde: "Bicho, um brinde à todos nós. Não poderia estar em melhor companhia".
Cheers, amigos.
Eu brindo à vocês daqui. 

3 comentários:

  1. Deu vontade de puxar a cadeira, encher o copo e ficar só ouvindo. Rsrs

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  2. Deu vontade de puxar a cadeira, encher o copo e ficar só ouvindo. Rsrs

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