Aos poucos e bons. Sempre.

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terça-feira, 29 de março de 2011

O aniversário

Ela está separada fazem cinco anos. Na verdade, ele se separou dela e já se passaram cinco anos. Hoje é o aniversário dela e ele não ligou. Ela sabia que ele não iria fazê-lo. Caso o telefone tivesse o poder de transmitir o cheiro e se ele tivesse ligado, teria sentido que ela havia se perfumado mais uma vez para ele. Mas dessa vez somente para ouvir sua voz. Ela já teve uns casos nesse meio tempo, entretanto, ainda não conseguiu se entregar de novo. Sempre fica se perguntando de quem era a culpa dela se sentir daquela maneira. Alguns dos homens que passaram por ela nesse tempo sozinha tiveram mais consideração em dias do que ele em anos. Enxergaram nela seu sorriso, sua inteligência, sua simpatia, sua felicidade, sua facilidade, sua espontaneidade, sua sagacidade, tudo que ela se tornou com seus 37 anos de idade hoje completos. E ele nunca enxergou. Nunca era o bastante para ele. As críticas sempre vinham antes dos elogios velados em umas palavras incógnitas. Até hoje ela não sabe se eram propositais para ela não decifrar precedidas de um sorriso esquisito. Depois ele dizia que era brincadeira diante da face dela de desgosto e do olhar longe que ela fazia ao olhar pra ele e não conseguia enxergar ela mesma nos olhos dele. Hoje ela entende que, ao olhar para ele, ela não conseguia vê-la porque ele sempre deixou em entre linhas que para ele, ele sempre foi e sempre será mais importante do que qualquer coisa. E ele não está errado. Talvez nenhum dos dois esteja. Porém, ela ainda não consegue esquecer que quando foi conversar com ele pela última vez ao desespero - e chorava de amor e não por quê sofria, como diz a música - e tentou dizer sobre futuro, sobre como as coisas poderiam dar certo e serem melhores, em como ela poderia ser uma pessoa melhor se ele compremetesse em ser também, que estava ali. Lembra ainda que o vento era gelado que vinha do mar e congelava suas mãos. Ela teve medo e frio. Carregava as suas alianças. Eles já as tinham retirado de seus dedos. E ela nunca conseguiu esquecer também depois desse tempo todo, que ao ouvir muito pouco do que ela tinha a dizer, ele ficou mais uma vez rude e seco. Como se ouvesse muito ódio reprimido. E ela pôde sentir isso nos olhos dele. E ele a interrompeu, mais uma vez. E terminou com a pergunta que até hoje ela carrega guardada dentro de si em um relicário. Ele disse:" ... tá ... disso tudo que você disse eu já sei, que podemos ter muitas coisas boas juntos e tudo mais ... mas você me poderia me contar algo que eu não saiba". E foi ali. Naquele instante com o vento gélido e cortante vindo do mar que secaram todas as lágrimas dela. As da face, as do coração permaneceram por mais um tempo guardadas. Ela lembra que não soube dizer naquele momento o quê ele não sabia, já que ele sempre soube tudo. Porém, hoje essa mulher madura com a graça infantil vinda de um gênio solto pelo sentimento poderia ter lhe dito muitas e muitas coisas que, para ele, de nada adiantariam. Por que a grande diferença entre eles sempre foi e sempre será que ela, nunca soube de nada, só teve a certeza. Tinha a certeza da paixão, depois do amor, do carinho e da consideração. Ele sempre teve a certeza do que era ela, mesmo ela sem saber o que ela mesmo seria. E o foi o fim. Ela não terminou de esperar pelo telefonema, se arrumou e saiu para comemorar seu aniversário como sempre gostou de fazer, coisa que, para ele, por exemplo, "sempre foi como um dia qualquer". Para ela não. Era o dia dela.

2 comentários:

  1. E que todos os dias sejam os SEUS...

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  2. Só o tempo pode explicar o que hoje é inexplicável e reaquecer o coração... Ari

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