Aos poucos e bons. Sempre.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"ET, phone, home"

Para ouvir: 
 
Meu dedo te acompanhou desde os seus primeiros suspiros de vida. Lembro-me que eu tinha uma francesinha na unha naquele dia e as fotos do 24 de Maio de 2008 ficaram lindas.
O meu primeiro ato como sua mãe foi encostá-lo em seu rosto e dizer:
"Oi, bebê!" 
O mesmo dedo enxugou as suas e minhas lágrimas, depois trocaram as suas fraldas e te ensinaram como era viver de mim, porque te alimentei exclusivamente até os seus 6 meses de vida.
E, então, depois de uns meses, o mesmo dedo balançava de um lado pro outro dizendo: 
"Não, não. Não pode engatinhar pra porta".
"Não pode comer areia".
Você foi crescendo e crescendo.
Meu dedo te ensinou a amarrar os sapatos com a história da coelha das orelhas grandes.
Te ajudou a colocar as suas proteções do skate.
Te clicou a cada momento das halfs pipes e suas manobras radicais.
E pôs meu coração pra dentro da boca quando assistia lá de longe da arquibancada suas peripécias.
Te ajudou na tabuada da lição de casa riscando com a régua e lápis coloridos a reta entres as contas, dizendo - apontando pro seu nariz:
"Se você soubesse, não estaria aqui me perguntando!" - prontamente enquanto você bufava dizendo: " Eu sei". 
O mesmo dedo, te escovou os dentes, trocou suas cuecas, suas meias e te acalentou, arrastando a sua franja para o lado delicadamente enquanto você estava chorando pelo nosso gato internado.
Esse dedo é lambido por mim, limpa sua remela de olho ao acordar, tira sujeira da bochecha e diz no seu desespero na sua primeira experiência de fatalidade e morte - do gato, que seja-  quando você chorava copiosamente:
"Presta atenção aqui na Mamis, pára de chorar e me escuta - o dedo estava lá pairando a sua amplitude materna - Vou fazer de tudo pra ele ficar bem!" E fizemos.
Depois, esse mesmo dedo, se entrelaçou com o seu e rezamos antes de dormir. 
Fomos agraciados. Ficamos todos bem. São e salvos.
O meu dedo te abraçou e dormimos juntos. 
Esse dedo é incapaz de levantar os outros 9 pra te bater. Nunca.
As pessoas não acreditam que isso seja possível, e meu querido, você pode dizer isso aos seus amigos. Nunca acontecerá com você.
Porque não me permito, e não te permito viver lembrando - nem que seja das mais remotas lembranças - que um dia essa mão que tanto lhe quis, poderia ser capaz de lhe agredir.
Amanhã, meu dedo vai ficar nervoso pra interrogar a mãe do seu amigo. 
Afinal, será a primeira vez que você vai pra casa de alguém depois da escola que o SEU dedo escolheu. 
Hoje você é dono do seu dedo.
Tenho certeza, que escolherá os melhores para estar ao seu lado.
Meu dedo confia no seu.
E juntos, sabemos que se algo der errado, é só mandar um:
"ET, phone, home"


 



 


 

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