Aos poucos e bons. Sempre.

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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A caixa de ferramenta.

 
 
Do clichê das coisas que eu sei. Das coisas e tantas de que não disse. Das coisas e tantas que não fiz. Da resiliência adquirida aos trancos e barrancos. Da janela do carro vendo o pôr-do-sol lindo (dane-se onde vai esse acento e esse hífen, cresci escrevendo em letra de forma com caneta Bic em bloquinho de papel, estou atrasada na modernidade até da língua portuguesa). Desse entardecer amarelado-quase-alaranjado regado nos mais belos ipês floridos espalhados silenciosamente pelo concreto cinza-oco dessa cidade que amo. Que respiro. Que sorrio e pisco todos os dias pela manhã. Ou pela tarde, depende do meu fuso horário.
Das coisas mais belas e singelas. Dessas de comer um japa no sofá. Da maleta de ferramentas pra consertar qualquer defeito. Deve ter chave de fenda. Tem que ter. Porque tem uns parafusos soltos que andam tentando se apertar sozinhos. Vira e mexe rodam sozinhos. Não encaixa. Não dá liga. Não dá aquele click  esperado e quase inaudível - como se você comprasse todas as pilhas Duracell do mercado, e mesmo assim, o positivo não encaixa no negativo. O brinquedo não funciona. Agoniza lá. É bonito o ursinho com o coração pulsante. Mas ele não bate. Não tem tambor.
Sei lá onde vende o manual.
A música que gosto é velha. Mas também sou ou estou. Questão de espírito.
Atualmente é primavera pela cidade.
Hoje me peguei olhando para um ipê rosa pela janela do carro. Era lindo. Queria te ligar pra dizer que sorri.
Sorri por você. Pela suas ferramentas. Queria te contar, quase sem fôlego, que você chegou pra alegrar meu dia.
Vem com suas ferramentas.
Já tenho o diagnóstico do conserto:
Me faça quase todos os dias querer dizer: BOM DIA pro português da padaria e mandar flores ao delegado.
Traga a chave de fenda que te mostro logo menos onde estão meus parafusos.

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