Aos poucos e bons. Sempre.

Aos poucos e bons. Sempre.

sábado, 31 de maio de 2014

Gabriel, gatos e vira-latas.

https://www.youtube.com/watch?v=UWyGm9PcM3wGabriel estava sentando do meu lado no vôo hoje. Era um cara nem baixo nem alto. Tinha uma barba grandinha que quando coçava fazia um barulho de homem. Vestia uma Hering branca encardida e um tênis Puma. Me olhou com cara de "não tô nem aí". Sentei. Ajeitei a bolsa. Apertei o cinto. Minutos de fecharem a porta e tal. O piloto muito gentil diz seu blá-blá-blá quando:
" Será que temos que avisá-lo pra não atropelar nenhum bicho na decolagem?" - fazendo referência ao trágico acidente que nos prendeu mais um dia em Manaus.
Ele sorriu.
" Acho bom, não é? Não quero mais ficar aqui." - ele.
"Nem eu" - prontamente respondi.
" Você estava aqui ontem também?"
"Sim. Cheguei ao hotel depois de umas 6 horas"
"Qual hotel você ficou?" - ele.
E assim se foram 5 horas de vôo.
Gabriel me fez sorrir durante todo o vôo. Conversamos sobre X-Men, Poderoso Chefão, Kill Bill, Corinthians, Copa, política, Big Brother, lanche ruim, comida predileta, esporte que não praticamos, jogamos Candy Crush, falamos do livro que mais gostamos, de profissão, de viagens que nos deixam fora do ciclo de amizades, de onde morávamos, de quais viagens gostaríamos de fazer até morrer, de ter 33 anos e preferir ficar em casa no sofá. Falei do meu vício em Skittles e de como pararíamos naquelas séries do Discovery Home Health se continuássemos dessa maneira.
Gargalhamos juntos nessas poucas horas a ponto de incomodar a passageira do lado.
Nos 45 minutos do segundo tempo, já nos acréscimos, com o avião em SP, me peguei a conversar com a garotinha que estava um pouco atrás.
"Sua bota cor-de-rosa é linda!" - eu.
" Você está vestida de pirata!" - ela.
Eu vestia uma camisa com estampa de âncora.
Rimos. - eu e ela.
"Você gosta de crianças?" - ele.
"Sim. Tenho um filho de 6 anos." - eu.
O mundo de Gabriel caiu.
"Não vi aliança. Você é casada?" - como quem pede uma resposta suplicando piedade.
"Não." - eu.
Se eu pudesse parar o tempo naquele milésimos de segundos que ele me olhou eu descreveria como uma gota que dissolve no deserto do Saara sem deixar vestígio.
Sorriu amarelo.
Não conversamos mais.
Gabriel quase que saiu correndo na esteira ao pegar a mala.
Li dia desses nessas besteiras de internet que uma mulher que tem um gato é aquela que está pronta pra ter um casamento porque, evidentemente, não é qualquer mulher entender e amar um animal como dono de si mesmo.
Pois bem.
Ninguém passa na fila antes de nascer e diz:
"Quero uma bunda gostosa, um sorriso bonito, conversar feito homem e ser mãe solteira".
Eu tenho um gato vira-lata. E o trato feito príncipe.
E nem te conto, Gabriel, mas abro minha cerveja na boca.

terça-feira, 27 de maio de 2014

"Mães que trabalham feito homens"

Da nossa música que você pede pra colocar no rádio.
" Põe aquela do tempo que eu era criança". - você diz lá do banco de trás devidamente seguro em sua cadeirinha.
E tenho dizer que você com 6 anos pedir por Ney Matogrosso é uma vitória. Silenciosa só da gente no carro. Mas é. - NOTA DA AUTORA. https://www.youtube.com/watch?v=tUECSWyQuD0
Esses dias, viajando a trabalho, me peguei sentada de perna de índio, descalça, descabelada e com rímel vencido esperando em um aeroporto meu embarque. Era noite. Olhei em volta: 10 homens e 2 mulheres. Eu e uma quarentona linda, toda vestida de negócios com seu terninho. "Quase confundi com um deles" - pensei.
Todos com seus respectivos computadores, Iphones e Tablets.
Telefones tocaram.
" Não, não chego pro jantar. Vou de taxi."
" O meu terno de amanhã é aquele preto que você sabe qual é. Não, não tenho horário amanhã".
"Não sei. Decide você".
Foram 3 respostas que escutei dos celulares dos homens.
Suspirei. Pensei no uniforme, na chuva, na meia limpa, na costureira pra fantasia da festa de sábado, nos Legos que não comprei e nas figurinhas repetidas que tenho que trocar.
Ameacei pegar o celular pra ligar, mesmo sabendo que você já estava dormindo nessas horas.
Toca o celular dela (da quarentona linda vestida de negócios com seu terninho).
"Oi, meu filho. Não, a mamãe não vai conseguir chegar pro jantar."
" Fez a lição?"
"Tomou banho?"
"Comeu o quê hoje?"
" Te amo, tomo café com você amanhã".
Sorri.
Da corda esticada que existe entre homens e mulheres, entre trabalho, decisões e dinheiro.
A cobrança é grande.
As respostas são bem distintas e as perguntas também.
E sempre serão.
Liguei. Mas você estava dormindo.
Cheguei às 2 da manhã.
No dia seguinte, deitei do seu lado sem você saber quando você adormeceu, respirei o seu cheiro e te aconcheguei na coberta.
E pedi quase que em uma oração pra que você tenha certeza que sempre estarei contigo. Não importa onde esteja.
Quando amanheceu, dei um jeito na meia, falei com a costureira da fantasia, te matriculei na aula de música, trocamos as figurinhas no shopping e  escutamos Ney Matogrosso enquanto tomávamos o seu café predileto: pão na chapa e Nesquik.
Esse é nosso poema - título da nossa música.





sábado, 10 de maio de 2014

Gerânio - a flor sem maquiagem.

 
 
 
Gerânio é uma flor esquisita. Essa música se deu em parceria com Nando Reis que fez dançar as palavras em forma de melodia originada de uma carta de uma "prima-irmã" da Marisa Monte. Pois bem, essa carta foi escrita descrevendo a Marisa como ela é. E demorou dez anos pra ela deixar a vergonha de lado e colocar a sua bela voz a cantar o que é ela.
Depois de ler uma enxurrada de críticas sobre supostas famosas tirarem fotos sem maquiagem, revelando o que sabemos: somos machistas. A sociedade critica tudo. Enfim.
Esse texto se criou quando li algo assim:

Na semana passada, Meryl Streep esteve em uma Universidade de Indiana para receber uma homenagem e respondeu a três perguntas feitas pela plateia. Uma delas, sobre quais conselhos ela daria às jovens de hoje. Olhem só o que a veterana dos tapetes vermelhos disse: “Para as mulheres jovens, eu diria que não se preocupem tanto com o seu peso. Meninas gastam tempo demais pensando sobre isso, e há coisas melhores que merecem sua dedicação. Em geral, também aconselho a não se desfazer do que te faz diferente ou estranho. Essa é a sua força. Todo mundo tenta se encaixar em uma espécie de molde, mas as pessoas que mais parecem diferentes são os que realmente se destacam. Eu costumava odiar meu nariz. Agora, não mais. Está tudo bem, entende?" Sim, entendemos e compartilhamos a ideia. ‪#‎merylstreep‬ ‪#‎diva‬ ‪#‎conselho
Ainda me preocupo com o meu peso. Mas gasto meu tempo comendo meu chocolate predileto ou a minha sobremesa de chocolate com calda quente depois de uma almoço delicioso. Um expresso seguido de água com gás e um cigarro contemplando o restaurante e as pessoas.  Não me desfaço mais do que me faz estranha. Gosto de pessoas. Não importam quem elas sejam. Mulheres, homens, ricos ou pobres. Aliás, pobres de ideias me fazem boçejar. E aqueles com ideias contrárias as minhas me intrigam e me enriquecem. Sem paciência pra partido político pré-definido-sou-contra-o-meu-país. Não discuto política. Nem Copa.  Nem opção de quem alguém deve ou não beijar na novela. Não me encaixo em nenhuma caixa. Faço do meu nariz de batata e bochecha rosada motivo de piada. Quanto a usar maquiagem em fotos. Eu só digo que: você só conhece uma mulher cheirando a nuca dela e não a base que ela usa. E pra conhecer os homens, se eles te fazem sorrir.
Aos machistas de plantão: vocês realmente não sabem de nada.
Mulheres bastam por si só. Homens: agreguem e não critiquem.
Quanto a solteirice, a melhor dela é ser por opção.
 
 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Mães e crias: são todas iguais. Feliz dia delas.

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=NSx_agu5NEk (porque tinha que ser a filha dela no momento mais parecido - gostando ou não - com a sua mãe).
Parabéns pra você que tem decorado feito autor de novela o diálogo da Pepa Pig. Parabéns pra você que levou no dentista e tomou bronca do pediatra. Parabéns pra você que passou vergonha na reunião da escola. E orgulho silencioso na outra.  Pra você que levanta da cadeira de praia e grita: " Mollleeeeqqquuuueee, vvveeemmm pro rasinho agggooorrraaaaa!". Pra você que luta com a faixa de judô só pelo fato de ter que amarrá-la milimetricamente  com "Você está fazendo errado" - de fundo e dirige por três mercados durante a noite pra achar o maldito "burrifador de água de 100 ml" para o trabalho de artes. Pra você que fala sobre a economia africana e crianças abandonadas com a esperança de alguém comer mais do que três colheradas da comida. Parabéns pra você que dorme pensando na mãe perfeita-cheirosa-bem-arrumada-e-alegre na festa de aniversário da amiga da escola enquanto você só pensa que horas que a tortura vai acabar. Parabéns às mães de meninas que compram Polly. E ainda tem que achar que zumbis das Monsters High são normais, ou melhor, que caixão são camas de bonecas. E pasmem. A mãe deixa um rim (de tão caro) na Hi Happy pra isso. Parabéns pra vocês que assistem de perto alguém descobrir um mundo novo. "Olha mãe, ali tá escrito CASA e aqui tá escrito BONÉ". Parabéns pra você que veste meia, amarra tênis e escova os dentes enquanto faz escova, pinta a unha e faz miojo. Parabéns pra você que muda o final da história e diz que o lobo é esperto mesmo e essa tal de Chapeuzinho Vermelho é uma boba mesmo pensando que a vida é cheia de lobos. E que nem tudo termina em final feliz. Parabéns pra você que acha que coisas como essas eles têm que ouvir da mãe. " É. A vida é dura mesmo, mas estou aqui". Parabéns pra você que tem peças de Legos perdidos na bolsa. E shampoos caros derramados no box. "Pra fazer espuma". Parabéns pra você que acorda no meio da noite porque tem 20 kilos na sua cabeça e você não consegue respirar. Parabéns pra você que vira o mês devendo porque tem escola, inglês, natação e música pra pagar. Que sabe todos os sabores da Ana Maria e todos os iogurtes sabores chicletes do planeta. Parabéns pra você que, assim como eu e provavelmente meu pai ou minha mãe - sente um prazer esquisito e bom em arrumar a mala da escola pro dia de amanhã. Aponta lápis, arruma estojo, faz o lanche e escreve na agenda. Parabéns mães. Pela cueca do Batman pendurada no varal, pela calcinha das Princesas e por tudo aquilo que fazemos silenciosamente sem eles saberem antes de se tornarem advogados, médicos, engenheiros, bailarinas ou até presidentes. As crias são nossas. Os segredos são iguais. As particularidades são só nossas. E sempre serão. Amém. Que as mães sejam eternas.