Aos poucos e bons. Sempre.

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terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma certa nostalgia.




Hoje o dia estava tão cinza que o vento vindo do mar me deixou com um frio esquisito na nuca. Fechei os olhos por inúmeras vezes tentando me aquecer, mas em nenhum momento consegui fazê-lo. Não sei explicar quando e nem por quê senti uma vontade de ter dez anos novamente e permanecer brincando na casa da minha avó acompanhada pelos meus primos. Lembrei do cheiro daquela casa e do aconchego que eu sempre tinha quando ficava por lá. Era segurança de ser criança onde a felicidade estava tão simples e sutil que nem precisava buscá-la. Ela acontecia simplesmente porque estava ali. Quando crescemos, esta simplicidade é devorada pela vida. Às vezes, ficamos tão perdidos e cambaleamos dentre inúmeros acontecimentos que o que mais queremos é ter o dia com cheiro de infância. Quando Nelson Rodrigues disse: "Jovens, evelheçam", com certeza ele não quis dizer para as crianças envelhecerem. Deixar de ser jovem e envelhecer é uma das fases mais difícieis que passamos. Claro que todas as fases são difícieis, entretanto, caminhar aos trinta é muito mais pesado do que aos vinte. Os joelhos dóem e a cabeça pesa cada vez mais em cima do pescoço. Você não perde mais uns quilinhos se simplesmente fechar a boca. Ao sorrir, sua foto fica marcada com uma linhas de expressão em volta dos olhos. E antes de sair pra dançar e só voltar no dia seguinte, você pára e pensa que não vai conseguir emendar com o trabalho. Tem vontade de ser o que você é hoje, mas ter pelo menos, uns cinco anos a menos. Tem vontade de voltar naquele dia que você não fez isso ou aquilo pois se preocupou demais com que as pessoas iriam dizer. Envelhecer não significa deixar de se arriscar com atitudes inesperadas ou não surpreender você mesma com algo que nunca fez anteriormente. É fazer tudo isso e entender que se o fizer ou não, as pessoas continuarão a achar algo a seu respeito e você não se importa mais com isso, desde que não faça mal a ninguém. A única certeza que permeia sua maturidade é o fato que você pode sim não saber o que quer realmente quando envelhece, pode procurar a terapia para se entender e se aceitar melhor,pode ver novela e desenhos animados, pode cantar sozinha dentro do carro ouvindo a música que mais gosta e voltá-la trinta vezes. Pode fazer tudo isso e muito mais. A grande vantagem disso tudo é que mesmo sem saber direito o que você quer, ou o quê vai acontecer daqui pra frente, seu coração sabe e fica cada vez mais certo daquilo que você não quer. E saber o que não quer lhe trás mais uma vez a sua criança que existe dentro de você. Já que não há nada mais belo e lindo do que as certezas que as crianças possuem.

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