Hoje ao pedir meu café carioca na lanchonete do shopping percebi que precisava de algo. Aqueles 30 segundos que a garçonete não olhou pra mim me irritou de uma tal forma que comecei a bater os dedos no balcão. E me irritei com o sorriso dela pra história que ela contava pra colega e demorou pra me atender. Me irritei com a demora de 30 segundos. Quando ela veio me atender -1 minuto depois- eu já nem queria mais o café. Tenho pressa. Os 45 segundos que meu leite esquenta no microondas me irrita. Fico olhando aquele prato giratório com a minha feição refletida. E me irrita logo cedo da pressa que tenho. E, então, lembrei da pressa que tinha quando corria. Lembro que cheguei a correr três vezes ao dia. Minha corrida era tanta que o suor era grânulos de sal em meu lábios. E eu tinha 19 anos. Corria com pressa da juventude. E cheguei a ganhar os 400 metros na faculdade. E hoje não subo dois lances de escada. E foi então que percebi que tenhia que voltar. Escolhi um tênis cor-de-rosa esperançoso. Pedi uma play list pra alguém. Aprendi a usar iTunes. E, "Meu Deus, eu corria com o disc-man preso no short"- sorri. Passaram-se alguns anos. Pois bem, lá fui. Acoplei os fones e mandei ver. Baixei um aplicativo de corrida pra saber o tempo x caloria x Km/hora x distância. Primeira música: trilha sonora de um dos meus filmes alemães prediletos. "Corra Lola, corra". E foi mágico. Marquei a batida da música com os passos. 2 km e já estava querendo vomitar pelo reflexo vagal. "Não." - eu sussurava pra mim mesma. "Vai!". E a batida continuava. O grito de Lola no filme e as imagens rápidas como passaram pra ela me alcançaram. Fui deixando cada imagem fotografada por mim pra trás. Pesada. Foi isso que senti. E não respirava mais. Respirava sem fôlego. Suei feito um lutador de box, um jogador de futebol ou uma pessoa a pular de um precipício. 5 km e eu estava morta. Nem pensava mais. Desliguei o som. Escutei meu coração. Batia feito um tambor sem harmonia. E minha respiração denunciava meus vícios: cigarro e cerveja. Minhas mãos tremiam. Minhas pernas não respondiam. Só consegui sentar. Deitei. A grama úmida refrescou minhas costas. Sentia que estava tão quente e vermelha que meu rosto explodiria. Passaram-se 1 minuto (aquele mesmo minuto que irritou logo cedo). Fechei os olhos e olhei o céu. Meu corpo estava pleno. Podia sentir cada veia irrigando minha carne. E ali quase morta, respirei. Respirei um ar quase que puro. "Como pude me esquecer da sua plenitude, Dona Serotonina?". Que sensação boa! E foi então que um dos melhores prazeres da vida sorriu e disse: "Seja bem vinda de volta, corra sempre. E aprenda logo menos a voar."
http://www.youtube.com/watch?v=cdKjNOLl58E
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