Antes de ser mãe, eu não sabia o que era ficar acordada quase a noite toda observando se a febre de alguém abaixou ou não. Não sabia o que era tomar banho em cinco minutos e dividir o chuveiro com quinze bonecos de plástico. Eu tinha todo o espaço do mundo para colocar meus produtos no banheiro e não somente naquela prateleira lá em cima. Eu saía de casa com a roupa passada e limpa, e não com a camisa amarrotada e suja de Nescau porque, de repente, ele desaprendeu a descer a escada. Ia ao cinema uma vez por semana e não assistia as estréias de desenhos. Não tinha idéia que se compra roupa e sapato uma vez por mês porque eles crescem inacreditavelmente sem você perceber, só quando estamos atrasados para a festinha da amiguinha da escola e você descobre que a roupa está pequena quando vai colocar a mesma que acabou de comprar e ela não serve mais. Não sabia que existia danones com sabores de chicletes. E não me preocupava com os corantes e conservantes dos alimentos. Tinha Coca-Cola na geladeira. Não sabia que poderia virar um polvo com mais de oito mãos pra carregar a minha bolsa, a mochila dele, o casaco e a sacola de brinquedos. Usava bolsa pequena. Porque agora, tenho que pensar no espaço pra levar a blusa de frio, a troca de roupa e o lanchinho. Saía pro passeio no parque sem pensar se ia chover ou se ia fazer frio. Eu dormia sem hora pra acordar. Hoje acordo com aquele bafo de Nesquik na cara e com a janela aberta: " Mãe, já tá de dia!" - e são seis horas da madrugada de um domingo. Saía sem pensar na logística. Tinha meu quarto todo decorado com fotos de viagens só minhas. Meu guarda-roupa era só meu. Antes de ser mãe, nem sabia tirar manchas de roupas. E nunca tinha entrado em um shopping sem levar nenhuma roupa pra mim. Porque hoje, entro nas lojas dele. E, acredite, não saio com nada que não seja estampado de super heróis. Não colocava Bisnaguinha na lista de compras. Não sabia cantar músicas com apenas duas frases com rimas bizzaras, mas que ficam na cabeça por dias. Nunca tinha ido ao teatro infantil. E não sabia o quão é lindo ver nos olhos dos adultos a satisfação deles quando estão trabalhando para as crianças. Eu tinha tempo pra ir no cabelereiro e na manicure. Ninguém mexia na minha bolsa sem autorização. Não sabia que pasta de dente tem que ser sem flúor até os cinco anos de idade. Não sabia o que era ter a sensação iminente de morte quando ele está machucado porque cortou a boca e está sangrando. Não sabia que poderia tremer tanto e perder o chão quando se espera por notícias na porta do centro cirúrgico. Assistia a novela no horário da novela e não a reprise daquele desenho que ele já decorou os diálogos. Nunca tinha achado tanta graça em ir ao Zoológico e ao Simba Safari. Mas, antes de ser mãe, eu não sabia o que era cheiro de orelha de filho. E nem beijo de boa noite vindo com um "Eu te amo, mãe lindona" falado mansinho e com um olhos de admiração inesquecíveis. Não sabia o que era ter alguém sentado na cama só pra me olhar penteando o cabelo. Não sabia o quanto é delicioso ter apelidos somente nossos. Nunca tinha recebido um bilhete de Dia das Mães com uma mão pintada de tinta. E nem sabia que dentinhos separados iriam me fazer tão feliz. Não sabia o que é ganhar um abraço apertado e sincero no meio do dia que me faz sentir tão segura e importante. Não sabia que brincar é uma maneira tão simples de aprender e se divertir. Não sabia o que era ter tanto carinho por um par de mãozinhas pequenas e com as unhas iguais as minhas. Antes de ser mãe, não poderia imaginar que minha felicidade poderia depender de outra pessoa. Porque aprendi tantas coisas nesses seus quase quatro anos, sabe? E o melhor é aprender todos os dias que eu nada seria se você não existisse aqui comigo. E que grande parte do colorido do meu dia vem dos seus olhos marrons e de seu cabelo caramelo. #simplesassim
Uma mulher avoada com asas cor-de-rosa. Um livro, um filme bom, um copo com água com gás e gelo, uma Heineikein gelada, uma sacada, um caderno e uma caneta. Uma música. Um cigarro apagado. Um sorriso. Um pôr-do-sol. Uma janela.
Aos poucos e bons. Sempre.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Mulher que é mulher ama de verdade. Se apaixona duas, três, quatro e tantas e outras vezes pela mesma pessoa se achar que ele ou ela é o amor da sua vida.Mulher de verdade usa calcinha bege e quase todos os dias não as combina com osutiã, só em dias considerados especiais, mas se esquecer, nem se importa.Mulher de verdade come chocolate escondido dela mesma. Dorme de camisetão e meia. Canta sozinha no carro. Maquia-se no espelho do elevador. Carrega uma calça jeans e outro sapato na mala do carro junto com o casaco, cachecol e o chinelo.Tudo junto e embolado dentro de uma bolsa que talvez possa precisar ou querer usar. Mulher de verdade beija de olhos fechados. Cheira nuca do namorado. Chora com filmes dramáticos e românticos. Assiste cem vezes Uma linda mulher. Já foi apaixonada pelo professor e pelo garoto malvado da escola. Mulher de verdade dirige com a janela aberta do carro na estrada e não se importa com o cabelo. Come feijoada e pede refrigerante light. Bebe cerveja e toma porre. Dança de calcinha na frente do espelho. Tem um creme, perfume, shampoo e sabonete para dias especiais e faz ele ou ela acreditar que todo esse cheiro é o normal do seu cotidiano. Tem um mini secador que dobra em cinco vezes e plim! carrega na nécessaire. Mulher de verdade trabalha igual homem e não faz fofoca no trabalho. Têm poucos e bons amigos. Amiga vira mãe, irmã, tia e muitas vezes filha. Uma simples ligação vira um diário em voz alta com direito até a dizer o que comeu no
almoço. Mulher de verdade admite que já chegou ou chega da balada descalça e de pé sujo e não toma banho, só no dia seguinte. Tem ressaca moral. Fala que ama sem querer escutar o mesmo de volta. Quer sempre emagrecer três quilos. Toma vinho sozinha no sofá da sala assistindo minisséries. Escuta a música do seu momento mil vezes por dia. Já leu livro de auto-ajuda. Já chorou e dormiu cansada de tanta tristeza e no dia seguinte ficou segurando a pedra de gelo enrolada no pano de prato contra os olhos meia hora antes de sair de casa.
Mulher de verdade gosta de receber flores e bilhetes. Gosta de futebol e de programa na TV de fofoca de artista. Carrega a foto do seu amor, filho, cachorro e do pai na carteira. Compra roupa em qualquer lugar, até no camelô se gostar da estampa. Disputa com a centopéia na quantidade de sapatos. Tem taquicardia quando abre a fatura do cartão de crédito. Mulher que é mulher perdoa de coração, não guarda mágoa ou rancor se acreditar que aquela pessoa vale à pena. Não tira ninguém da sua vida, só reorganiza as prioridades. Adora dormir abraçada, mas não pensa duas vezes em dizer que quer dormir de bruços naquele dia. Sorri, ri e conta piada. Assiste desenho. É isso tudo e muitomais. “Se não, é como amar uma mulher só linda. E daí? Uma mulher tem que terqualquer coisa além da beleza. Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora. Qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado. Uma belezaque vem da tristeza de se saber ser mulher” – Vinícuis de Moraes, Samba daBenção.
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