Aos poucos e bons. Sempre.

Aos poucos e bons. Sempre.

sexta-feira, 20 de abril de 2012



Hoje não dormi e nem acordei. O dia ficou branco. Não sorri. Não chorei. Tinha música no carro, eu me lembro. E a ouvi no "repeat" apertado no display do rádio. Não passei perfume. Não me maquiei. Não usei brincos e nem escolhi a roupa. Fiquei com a de ontem, mas com outra camisa. Amarrei o cabelo e só. Respondi uns "bom dia" pra poucas e boas pessoas. Não coloquei a mão pra fora do carro na estrada e nem liguei pro vento bom que vinha da janela aberta. Não fiquei no jornaleiro jogando conversa fora. Não quis ouvir minha mãe contar da novela que já tinha começado. Perdi hoje o paladar que tanto gosto, do meu prato preferido e da sobremesa linda que compensa a caloria. Não comi o chocolate derretido dentro da bolsa. Escovei os dentes com olhos fechados e tive preguiça de me olhar no espelho. Não liguei o chuveiro um minuto antes do banho pra fazer aquela fumaça aconchegante. Tomei banho gelado. Não passei creme hidratante. Tirei o esmalte escuro. Não atendi a amiga pra ouvir seu diário amoroso. Nem liguei para aquela outra contando a novidade que não aconteceu. Não fiquei com o celular do lado do prato e muito menos debaixo do travesseiro. Não olhei a lua pela janela do quarto. Não abracei meu filho e não rolei no chão com a minha cachorra. Não liguei a televisão quando cheguei em casa. Guardei o sapato usado no lugar dele e andei de chinelo em casa. Quando acordei, tirei logo o pijama e troquei de roupa. Não usei óculos escuros. Não quis ler três livros ao mesmo tempo. Fechei os olhos pra todas as pessoas que passaram ao meu lado. Não fui eu mesma por hoje, enfim. Foi uma tentativa agonizante de se achar dentro do saco de papel escuro. Tentar perceber se meu maior defeito talvez seja ser justamente eu mesma. Mudei hoje minhas manias. Mudei minha rotina. A vida passou hoje nesse dia calada, insossa e cinza. Não fiz diferença pra mim mesma. O que fica disso tudo? - pergunta o espelho do elevador. Não sei. - eu respondo. Não sei nada e cada vez sei menos. - pensei. E o que adianta não estar presente? Está com medo? Triste? - espelho teimoso. O andar do escritório nunca chegava, foram os trinta segundos mais longos da minha existência. E te fez mais feliz não fazer diferença na sua vida e nem na vida de ninguém? - a porta se abre. Saio do elevador e dou uma meia volta rápida pra respondê-lo antes que a porta se feche. Plim! - não deu tempo. Não consegui responder. Sorri. O raio de sol entrava tímido no escritório e batia na tela do computador. Senti o cheirinho de café vindo. " Poxa, pensei que você não viria. Toma seu café. Senti falta de você ontem" - colocando a mão no meu ombro, deixando o copinho na minha mesa e lascando um beijo na minha bochecha. Maria querida. A "secretária" de todos. "Ah, e vai passar uma cor nessa cara porque essa aí não é você!" - e piscou. Não é mesmo - pensei - Ainda bem! ; )

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Toda vez que reviro esta história mal digerida, mas escrita, mal lida e bem acabada, a vontade que tenho é de te ensinar a correr sem fôlego. Sem respirar quando cansado. Porque é assim, exatamente dessa maneira que me sinto. O fôlego que você disse tanto que tem ficará esquecido e quieto entre tantas e tantas palavras ditas entre linhas. Porque descubro sem querer, porque chega aos meus ouvidos sempre e quase todos os dias algo de você. O máximo que posso fazer é escutar com ouvidos surdos, mas o eco que fica - meu amigo - faz um barulho horrível. E nem aquela música mais querida disfarça esse armargor. Por quê ficou tanto tempo inerte? Por quê me fez perder o brilho? Se nem você mesmo sabe onde está o seu. Resgataria cada fio do meu cabelo que caiu em seu travesseiro. Cada gosto de lágrima que derrubei. Porque você não se conhece, não me conhece. E me perdi nessa sua confusão. E, me pergunto. Me pergunto todo maldito dia o por quê fiz isso comigo. Não. Não carrego as pessoas comigo para viver um sonho que nem sei se quero ter. Mas, hoje, lhe garanto: fugir e fingir são as piores armas de um covarde. Não comigo - ou também - mas com a vida. Continuo extremamente saudosa com ela. Fiquei de bem quando voltei a ver o brilho dos olhos, os sorrisos sinceros e as brigas reais. Porque isso é viver! Não tentarei mas lhe mostrar isso porque entre eu e você existe um obstáculo grande, forte e lindo: o coração pulsátil. Batendo sempre pela verdade. Louco e desvairado. Mas da inércia que transpira pelos seus poros, o meu tem nojo. Simples assim.