Para ouvir:
Ele nem sabe o quanto eu gosto de
andar de mãos dadas. Gosto do jeito que ele anda e segura minha mão que fica
bem pequena entre a sua. Segura meio pra cima da sua cintura, me levando entre
seus passos.
Gosto quando ele dirige e coloca
sua mão na minha perna. A cumplicidade que permanece densa no ar é a mesma que
quando andamos juntos. Como uma leve brisa meio fria de uma tarde de outono.
Conforta e agrada.
Choro de rir das besteiras dele.
Lágrimas de alegria que podem em um segundo se transformarem em tristeza e
desespero ao pensar em perdê-lo novamente.
Faz-me sorrir feito criança e em
um instante fecho os olhos bem apertados agradecendo aquela música de fundo que
sempre ouço quando isso acontece. Se parassem esse milésimo, creio que teria
cheiro e som de inocência, como a chuva que bate de leve na janela e acaba por
ninar um sono breve.
Adoro quando ele se aconchega na
cama e levanta o braço oferecendo seu colo. Acolhe-me e protege. Se houvesse a
possibilidade ver as de cores desse quadro do dia, seria azul alaranjado quase
vermelho rosado, como um pôr-do-sol de inverno.
Demoro pra pegar no sono sentindo
sua respiração na minha nuca. É quente. Quase morno. Levanto com as mãos meu
cabelo no travesseiro com a desculpa de que é pra ele respirar melhor. Mas no
fundo, é pra sentir sua expiração que exala a oração que gostaria de ouvir
todos os dias antes de adormecer.
Suas mãos acompanham algumas de
suas falas, se movimentam de um jeito só dele à medida que ele se expressa como
se fizessem parte de uma de suas frases. É tão dele essa mania que se torna
sutil quase que despercebido para os menos atentos em cada detalhe que o torna
um homem tão único.
Amo aquele cheiro que ele tem.
Aquele que fica atrás da sua orelha, entre sua barba, no seu travesseiro e na
gola da camiseta.
Se
tivesse a quilômetros de distância como quase sempre estamos, o reconheceria
com uma inspiração rápida em qualquer um desses lugares. É engraçado sentir o
cheiro e lembrar da pessoa. Lembro-me de alguns momentos vividos com cheiros.
Recordo os detalhes e guardo quase todos os momentos com ele dessa maneira.
Arrumo-me esperando que ele
elogie. “Você está linda”. – ele fala. Sempre a mesma frase. Entretanto, com a
singularidade de cada roupa, maquiagem ou jeito de arrumar o cabelo.
Certo dia, ele me perguntou por
quanto tempo eu achava que duraria uma paixão, ou a nossa paixão que fosse.
Demorei um tempo pra responder, queria achar a melhor das melhores colocações
ou frases de efeito com fundo em amor eterno e tudo mais. Nem lembro direito o
que respondi. Lembro-me apenas de dizer que seria sempre apaixonada por ele.
Hoje, escrevendo esse texto, eu
diria que fôlego não há de faltar. Eterno é muito distante e difícil de sentir
os cheiros ou ver as cores. O que há de especial mesmo é ter o que escrever com
uns simples minutos de cada dia que compõem nosso breve cotidiano, quando ele
vem lá de longe e vou buscá-lo ansiosa para ver aquele sorriso e já pronta pra
viver todos esses detalhes mais uma vez.