Tenho que dizer que morar no Rio e não ser carioca é um tanto quanto desafiador. Ter alma de paulista e ser carioca de caráter tipo exilada requer diariamente vencer e, mais do que tudo, viver preconceitos. Quase todos riem do meu sotaque. E olha que eu nem puxo o "r" ao pronunciar porta e muito menos acrescento "meu"no início de alguma frase. Entretanto, meu "s" não chia como o de todos por aqui... Apesar da fama do carioca de ser fácil de se conviver, é muito difícil de fazer amigos. Isso porque " Cariocas já têm seus amigos e não precisam fazer mais"- palavras de uma garota que provavelmente se tornou uma amiga por aqui. Dei a rir quando ouvi isso dela, mas entendi. Às vezes você fala bom dia e a pessoa não responde, ou ao entrar no elevador, alguém ao invés de segurar a porta pra você, caminha mais rápido só para passar a frente e entrar primeiro no elevador. E depois, dizem por aí que paulista é que é apressado. Mas, conversar com carioca é que é engraçado porque em dez minutos sabe-se toda a vida da pessoa e mesmo assim, se ela dizer que vai te ligar, você não pode esperar porque senão vai morrer de ansiedade ou de varizes se ficar de pé esperando. Dirigir na cidade maravilhosa é uma loucura. Tem que fazer aquele curso de direção defensiva para poder se defender de táxis e ônibus. Já em São Paulo, para escapar vivo de motos e enchentes surpresas. O frio daqui qualquer paulista enfrenta de camiseta, já os cariocas tiram cachecóis e botas de cano alto. Ouvi hoje que o clima estava de necrotério de tão frio. Comecei a rir. Frio mesmo é aquele de Julho em Sampa que faz sete graus em plena sete horas da manhã. Por falar em números, nunca marque hora com nenhum carioca, ele não vai chegar no horário. E, incrivelmente, você não ficará estressado, vai rir da história que ele contará pelo atraso. Agora, no trabalho não vi diferença nenhuma. Todos trabalham muito. Porém, os cariocas rezam pra chegar sexta e terminar a noite em um boteco tomando um choppinho com os amigos. Já os paulistas tentam sair mais cedo pra conseguir demorar uma e não duas horas pra chegar em casa. Carioca almoça. Paulista compra um lanche e come no carro ou em cima de papéis pra não perder tempo, contudo, ambos entregam o trabalho no mesmo tempo. É , para isso, não tenho explicação. O Cristo de braços abertos fica lindo ao anoitecer e te dá uma sensação de bem estar que ao cruzamento da Rua Ipiranga com a Av São João nem chega perto. Vai ver que é por isso que o clima de praia e férias toma conta de todos. Por aqui todos andam de havaianas. Quando precisam ir arrumados, combinam a cor da havaianas com a blusa. A paulista faz a unha e escolhe a cor pra pintar. A carioca vai na manicure, pede qualquer cor, ou " Aquela da novela" e pede "pra tirar a pontinha". Minha alma de paulista continua a falar bom dia para todos, dá a vez no trânsito, não usa chinelo na rua, nem blusa de lã e chega no horário. Entretanto, olho o Cristo pela janela do carro ao voltar do trabalho e dou um sorriso como se Ele pudesse me ver, insisto em fazer amigos, ligo para aqueles que eu disse que iria ligar. E, assim, como uma boa carioca, torço pra chegar o final de semana, para ir a praia, tomar mate gelado e comer biscoitos Globo.